Hoje acordei num daqueles dias
em que me vejo meio pessimista em relação à humanidade, devido ao acúmulo de
más notícias que me chegam por todos os lados, relativas a fatos escabrosos
ocorridos em minha cidade, em meu estado, no país em que vivo, no planeta que
habito. Sei que a culpa pelas notícias ruins não é da imprensa, que tem a obrigação
profissional de divulgá-las, mas sim da própria humanidade, que parece cada vez
mais empenhada em produzi-las e protagonizá-las.
Corrupção, fraudes,
estelionatos, violência, terrorismo, crimes brutais, trânsito assassino,
egoísmo, trapaças, ganância, materialismo, individualismo, mentiras, brigas,
ofensas... A sensação às vezes é de que a coisa saiu definitivamente de
controle. Instaurou-se o “salve-se quem puder”. Angústia, medo, aflição,
desesperança, abandono, são as sensações que me assolam em dias em que acordo
assim. Sequer sou amigo do bispo, para ter o consolo de ir me queixar a ele.
Muitos foram os cineastas e
escritores que, ao projetarem o futuro da humanidade em suas obras, sob o pano
de fundo das evoluções tecnológicas, se dedicaram a antever o possível caos em
que a sociedade corria o risco de mergulhar. Um caos de violência, de gangues
armadas, de ausência de leis, de cidadania, de ética, de valores que permitem a
civilizada e sadia convivência humana. Ao pensar nisso, dois títulos me vêm
logo à mente: “Laranja Mecânica” (1971), de Stanley Kubrick, a partir da obra
de Anthony Burguess; e “Blade Runner” (1982), de Ridley Scott, inspirado em um
texto de Philip K. Dick.
Basta rever as duas películas
para ser possuído pela perturbadora impressão de que as sensações de angústia,
medo, insegurança e claustrofobia geradas pelos filmes se equivalem cada vez
mais aos sentimentos que nos acometem nos dias sombrios de hoje, ao sermos
confrontados com a vilania humana que saiu dos cinemas e das ficções de horror
para pular as cercas de nossos quintais e bater às nossas portas. Poucos anos
atrás, perdíamos o sono temendo uma guerra atômica. Hoje, tememos é a explosão
de violência e incivilidade que reside latente no íntimo de quem nos cruza ao
lado.
Mas nem tudo é tão cinza. Amanhã
posso acordar sintonizado em passarinhos...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de maio de 2013)
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