Havíamos recém solucionado uma
quarta parte da lista de compras no supermercado (adoro elaborar listas de
compras de mercado), ali pela altura da seção do creme de leite (adoro creme de
leite), quando uma das rodinhas da frente do carrinho de compras enguiçou
(detesto carrinhos de compras). Na hora do rancho semanal, cabe a mim (entre
outras tarefas) pilotar o carrinho (o que adoro fazer, quando ele não enguiça)
enquanto minha esposa pirilampeia livre e saltitante por entre as gôndolas,
comparando preços das mercadorias, verificando datas de validade, sopesando as
vantagens e desvantagens existentes entre as diferentes marcas.
De minha parte, atenho-me a
dirigir o carrinho com habilidade, desviando dos atravessados que atravancam os
corredores, estacionando em lugares seguros que não atrapalhem o tráfego de
compradores, organizando os produtos já selecionados para não misturar suco de
pomelo (adoro suco de pomelo) com ração para gato (adoro meu gato), essas
coisas. Mas toda essa idílica harmonia foi subitamente quebrada com o travar da
tal rodinha, que imediatamente transformou meu ponderado carrinho em um bólido
desgovernado por entre as gôndolas, a guinar tresloucadamente para a esquerda
quando minha intenção era dobrar à direita e chocar-se contra a pilha de
fraldas descartáveis (ufa que não era a dos vinhos chilenos) e a beliscar os
calcanhares da senhorinha que ia à frente (em tempo: adoro vinhos chilenos e
não tenho nada a declarar em relação a calcanhares de senhorinhas).
Eu macaqueava para um lado, usando
todas as minhas forças e me contorcendo, e o carrinho creeeeeeeeec, volteava
para o outro, rebeldíssimo. Minha mulher viu e começou a rir por entre
gôndolas. Fomos assim até o final do périplo, na fila do caixa, quando ainda
tive de dar uns últimos trancos no dito cujo. Foi quando ela não aguentou mais
e explodiu em um riso contido, que se externava em lábios arreganhados, soluços
e lágrimas a lhe rolarem pelas faces. Chorava ela de rir, enquanto, na fila ao
lado, a senhorinha dos calcanhares esfolados me fulminava com olhares raivosos,
pensando: “Além de barbeiro, faz a esposa chorar no mercado”. Aqui, não há
parêntesis que remendem a situação.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de maio de 2013)
Um comentário:
Ataques de riso são a melhor coisa deste mundo, daqueles que não há o que nos faça parar.
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