Dia desses andei lendo – meio
por alto, confesso –, na imprensa navegada e folheada, acerca de um bicho-preguiça
que, em abril deste ano, apareceu aqui no Rio Grande do Sul na boleia de um
caminhão. O caroneiro secreto só foi descoberto quando o caminhoneiro chegou em
casa, na região metropolitana de Porto Alegre, após uma longa viagem de dois
meses e cerca de 1,5 mil quilômetros percorridos, desde Minas Gerais. Que
jornada fez o bicho!
Encaminhado ao Zoológico de
Sapucaia, o visitante inesperado logo recebeu todos os cuidados da equipe de
veterinários, que tratou de adaptá-lo às variações insanas de nosso clima (eu,
que nasci aqui há quase meio século, ainda não consegui me adaptar... acho que
me faria bem uma temporada de internação aí no zoo, onde costumam bem receber
bichos-preg... epa, nada de gracinhas aí!) e de cuidar de sua saúde, a fim de
habilitá-lo a retornar a seu habitat natural. O turista acidental mineiro
(supõe-se que seja mineiro, apesar de o caminhoneiro desconfiar de que o
“carona” tenha jogado a mochila e subido a bordo no Paraná, onde foi sua última
parada antes de chegar em casa) recebeu aqui o nome de Sid, e agora uma
operação especial providenciou seu retorno à natureza, porém, não em Minas, mas
em Tocantins. Ah, e dessa vez foi de avião. Nem precisou utilizar as milhas de
seu cartão de crédito.
O que ninguém conseguiu me esclarecer
- e aí é que faço a crítica a meus colegas jornalistas – é o que motivou Sid a
desejar tanto vir passear aqui no Rio Grande do Sul, a ponto de encarar uma
aventura dessas? Queria ver o pôr-do-sol do Guaíba? Visitar os encantos da
Serra Gaúcha e degustar uma polenta brustolada sobre a chapa de um fogão a
lenha? Conhecer a história silenciosa que paira no entorno das majestosas
ruínas de São Miguel das Missões? Experimentar uma costela gorda assada em
espeto de pau fincado no chão em volta de uma fogueira enquanto sorve um
chimarrão preparado por um autêntico peão de estância?
Pois é, fiquei sem saber.
Ninguém entrevistou o Sid e ele foi-se embora, embrenhar-se nas matas do
Tocantins. Eu aqui, chimarreando em casa, tenho uma desconfiança: Sid até
queria viajar para conhecer as maravilhas de nosso Estado. Porém, ao cruzar a
fronteira a bordo do caminhão e ter uma degustação da situação precária de
nossas estradas, achou melhor desistir, permanecer umas semanas no spa do
zoológico sendo tratado como rei e voltar correndo para o alto das árvores,
onde está bem mais seguro. O bicho pode ser preguiça, mas definitivamente não é
burro.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de agosto de 2014)
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