A gente, quando está vivendo a
chamada fase escolar, é comum que se fique indignado com os conteúdos de
algumas matérias que os professores tentam heroicamente fazer entrar em nossas
cabeças, a maioria delas ocas, outras tantas duríssimas como adamantium (a liga
metálica fictícia com a qual são formadas as garras do Wolverine, isso todo
mundo sabe o que é, né, até eu).
Pois eu me lembro que ficava
indignado por ter de decorar a Fórmula de Bhaskara, que, a meu ver, jamais
serviria para qualquer coisa em minha futura vida prática. Somar, dividir,
multiplicar e diminuir, sim, pareciam operações importantes e aplicáveis no
dia-a-dia, especialmente para administrar a mesada que garantia a merenda no recreio. Mas Bhaskara? Bah!
Porém, nada como uma década
depois da outra para derrubar nossos preconceitos e enfim encontrarmos a luz que
nos faz enxergar e redimir os esforços de nossos antigos e empenhados mestres. Foi
sentado à mesa de um café que costumo frequentar que me dei por conta da
importância dos preceitos básicos da análise combinatória que tanto tentaram me
ensinar naqueles tempos de quadro-negro (que era teimosamente verde).
Sim, porque hoje em dia não
basta você apenas sentar e pedir um capuccino e pensar que seu serviço de
cliente está encerrado e basta esperar pela entrega do pedido. Nananana, não
basta ser cliente, tem de participar. Você precisa decidir se deseja um capuccino
grande ou pequeno? E depois de optar pelo grande, escolher se quer com ou sem
chantilly? Tá, grande sem chantilly. Sim, mas com ou sem raspas de chocolate?
Grande, sem chantilly e com raspas de chocolate. Já sua esposa quer um pequeno
com chantilly e com raspas de limão.
Quantas opções, no fim das contas, existem?
Quantas pessoas você pode convidar para tomar capuccino com você sem que
nenhuma repita o mesmo pedido? Ahá! Seu professor de matemática sabe a
resposta. A moça que atende no café também. E você aí? Quem mandou cabular aula
de análise combinatória?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 28 de agosto de 2014)
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