O bom é que cem por cento das
barbearias obedecem ao mesmo padrão arquitetônico e são envidraçadas,
permitindo que o freguês cabeludo ou barbudo faça uma avaliação prévia do
movimento antes de entrar, o que é importante para o relógio e para a
paciência. Para o relógio porque, dependendo do número de clientes acotovelados
no banquinho à espera de sua vez de ir para a navalha (utilizada pelo barbeiro para
raspar aqueles pelinhos que se agrupam atrás da nuca sem que você os veja,
provavelmente falando sempre mal da vizinhança), é melhor você dar meia-volta e
retornar mais tarde, senão, vai se atrasar para a reunião com o cliente da
manhã.
E bom para a paciência porque,
se você tem a vista ainda acurada, consegue detectar de longe a presença ali do
chato do Rostolfo, que se agarra em seu braço para contar piadas soltando
perdigotos, ou ainda a do Palhares, para quem você deve, nunca nega, mas não paga
justamente para torturá-lo um pouquinho, que ele merece. Aí, rodopia-se sobre
os próprios calcanhares e vai-se bater em outra vizinhança, na concorrência do
barbeiro.
Mas o interessante mesmo nesses
estabelecimentos cruciais para a manutenção da boa aparência macholina é a
pauta de discussões que se estabelece entre o profissional das tesouras, o
destemido que vai sendo por ele descabelado na poltrona e a homarada que povoa
o estabelecimento, uns para o corte e outros para encher o tempo (deles) e a
paciência (dos demais). Ontem, por exemplo, dia de corte não porque a lua era
propícia mas porque a esposa já descabelava os dela por causa dos meus, fui-me
ao distinto salão que frequento ali no centro e participei animadamente de uma
discussão sobre o horror das touradas, que era a pauta que rolava solta quando
penetrei no ambiente.
Assunto estimulante e caudaloso,
rendeu diversas variações e, ao sair da cadeira, menos peludo e mais arejado,
já me irmanava aos demais na torcida sempre a favor dos touros. Mês passado
discutimos acaloradamente os preâmbulos da Copa do Mundo, por exemplo. E assim
vamos navegando de tópico em tópico, saltando dos desmandos da política para os
buracos nas estradas; do descaso com a saúde ao futebol; das doenças de cada um
e em especial da que matou o porteiro Vasques semana passada.
Como é? A amiga leitora quer
saber se falamos de mulheres? Lamento, querida, porém, ao contrário do que
vocês imaginam, dificilmente vocês estão na pauta do dia. Assunto de homem é
sempre essa coisa sem graça mesmo...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de agosto de 2014)
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