No último domingo, dia 24 de agosto, o país relembrou os
60 anos da morte do ex-presidente Getúlio Vargas, que tirou a própria vida com
um tiro no peito em 1954, comovendo a nação e fazendo história. Carismático e sempre
acessível apesar de encarnar o poder no país durante décadas, Vargas imprimia
profunda impressão em quem tinha a oportunidade de travar alguma relação com
ele. Meu avô materno é uma dessas pessoas.
Como todo o avô que se preze, ele é um contador de
“causos” e, entre os de sua preferência, figuram aqueles envolvendo Getúlio
Vargas, a quem conheceu pessoalmente por ter sido militar em São Borja naqueles
tempos. Ele era sargento do Exército após a queda do Estado Novo, a ditadura de
Vargas que desabou em 1945 com o fim da Segunda Guerra Mundial. Deposto do
poder pelos novos ventos democráticos, Vargas refugiou-se em sua fazenda no
interior de São Borja. Certa feita, meu avô conduzia um batalhão do Exército
para treinamento por aquelas redondezas, a cavalo, quando Getúlio, também a
cavalo, o encontrou em uma estrada de chão batido. Durante duas horas,
cavalgaram lado a lado e conversaram.
Anos depois, em 1951, Getúlio
Vargas retornou ao poder como presidente da República eleito democraticamente.
São Borja, sua terra natal, preparou-lhe uma recepção, com honras militares.
Meu avô, o sargento, integrava o grupo de militares que se perfilavam no salão onde
a homenagem acontecia. Quando Getúlio entrou, o comandante deu ordem de
“sentido” para que a tropa fosse passada em revista. Ao se aproximar de meu
avô, o presidente reconheceu o companheiro de cavalgada e de prosa de anos
atrás e, quebrando o protocolo da solenidade militar, estendeu-lhe a mão para
cumprimentá-lo. Meu avô respondeu ao cumprimento e ambos sacudiram as mãos.
Na manhã seguinte, ao chegar ao
quartel, a discussão entre seus superiores era sobre se ele havia agido certo ao
sair da posição de “sentido” para cumprimentar o presidente da República ou se
deveria sofrer punição por ter desacatado a ordem do comandante. Meu avô
solucionou a questão respondendo que, na hora, teve de agir rápido e ponderou
que aquele que lhe estendia a mão para cumprimentar mandava mais do que o
comandante que havia dado a ordem de “sentido”.
Fim de discussão e a moral da
história (segundo meu avô): é muito importante sempre saber exatamente quem
manda, para não correr o risco de cair do cavalo. Ora, pois.
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