Tem um amigo meu, chamado
Argentino, que gosta de comparar os diversos países do planeta a perfis
específicos dos seres humanos. Não há nada de científico nisso, ele apenas o
faz nas mesas de bar quando está discorrendo sobre algum assunto relativo a
política internacional ou às questões que assolam o nosso próprio país, e o faz
a título de “figura ilustrativa de discurso”, como ele próprio classifica seu
processo classificatório.
Assim é que Argentino compara a
Inglaterra, por exemplo, à figura estereotipada de um senhor de meia-idade,
sisudo, um típico lorde inglês. A França, para ele, equivale-se ao perfil de
uma elegante dama da alta sociedade, perfumada, charmosa e repleta de
mistérios. Portugal é um poeta lírico solitário e angustiado e a mim me parece
que ele faz a evocação influenciado pela figura de certo poeta famoso, mas vá
lá, que seja. E quanto mais a noite se alonga, mais Argentino tece correlações
ilógicas entre países e perfis imaginários, dando asas a seus devaneios
pseudopsicogeopolíticos.
De minha parte, apenas escuto-o
embarcar nessas suas digressões, sem contrapor, pois que conheço meu amigo e
sei que o melhor a fazer, nessas ocasiões, é tão-somente ouvir e calar,
concordar com tudo, aquiescer e deixar por isso mesmo. Especialmente porque sei
onde ele invariavelmente deseja chegar: no perfil do Brasil, naturalmente. O
Brasil, para meu amigo, tem o perfil assemelhado ao de um adolescente
inconsequente e cegado pela sua própria prepotência juvenil. Embasa sua tese a
partir de vários argumentos, elencando quase sempre a questão da preferência dos
brasileiros por três tipos de notícias: sobre futebol, sobre factoides envolvendo
subcelebridades e sobre violência. “Preocupações típicas de adolescentes”,
afirma, peremptório.
Não sei se é devido à repetição
desses discutíveis argumentos a que sou frequentemente submetido, mas não deixo
de dedicar alguma ponta de credibilidade à tese dele, especialmente no que se
refere à questão brasileira. Será que o que nos estaria faltando,
coletivamente, seria uma dose cavalar de amadurecimento? Será que o Brasil
precisa é sair da adolescência? Vai que...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de maio de 2015)
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