Um livro lido e as reflexões
sobre a vida que suas páginas suscitam; um filme visto ou revisto e as
impressões que ele causa; uma peça teatral, a performance dos atores, o
desfecho triste (uma tragédia, porque acaba mal) ou feliz (então, uma comédia, pois
que bem termina); as sensações decorrentes do usufruir de uma música; uma
conversa com um amigo; um fato que ganha as manchetes dos jornais, sobre o qual
todos comentam, porém, deixam escapar um viés que só você percebeu; uma nota de
rodapé que, apesar de tímida, revela uma singular experiência, metáfora de toda
a existência; um prato delicioso; um sabor, um tom, um toque, uma imagem, uma
voz, uma palavra, um silêncio, um cheiro, o voo de um pássaro; uma data
importante, o centenário de nascimento ou de morte de uma celebridade, um fato
quase esquecido; uma lembrança da infância, uma pessoa que nunca mais se viu;
um arrependimento, um orgulho, uma noite de insônia e aquela com o sono dos
anjos também.
Todas essas coisas, e
centilhares de outras que não foram citadas, costumam ser as principais fontes
de inspiração para um empilhador de palavras que precisa exercitar diariamente
o ato de produzir crônicas a serem publicadas em jornal de grande circulação
regional, oferecendo motivos para a reflexão e, se possível (o mais importante
de tudo), por meio de um texto agradável de ler. Nem sempre se consegue, e é
justamente o tentar que justifica a produção, mesmo que às vezes menor, da obra
que o cronista se propôs a moldar.
Mas o que realmente legitima
todo esse empenho diário é o retorno que aquela parcela atenta e generosa dos
leitores se preocupa em dar ao cronista esforçado. O e-mail que aterrissa na
caixa de entrada; o telefonema do mais ousado; a abordagem direta na calçada; o
compartilhamento do texto pela internet para que todos o leiam. É assim, a
partir dessas gotas de ouro de retorno, que o autor consegue ter uma noção de
como seu trabalho ganha vida e significado no íntimo de cada pessoa (conhecida
ou anônima) que com ele se relaciona, fazendo do texto uma entidade viva e
transformadora dentro do cotidiano de cada um.
Sou grato a cada um desses
leitores que tiram, de vez em quando, um pouco de seu tempo para alimentar com
palavras a solidão do escritor no ato da escrita. Eu, por mim, criava o Dia do
Leitor!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 27 de maio de 2015)
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