Os principais fatores que
motivaram levas e levas de famílias europeias, especialmente alemãs e
italianas, a abandonarem seus lares na segunda metade do século 19, cruzarem o
oceano Atlântico e virem começar nova vida em terras brasileiras foram a fome e
a crise econômica que assolavam seus países de origem. A falta de perspectivas
de trabalho e a descrença na possibilidade de haver uma melhora na situação das
classes menos favorecidas na Alemanha e na Itália foram os ventos que
impulsionaram agricultores, artesãos e vários outros tipos de profissionais a
se transformarem em imigrantes e protagonistas de um capítulo importante na
história do Rio Grande do Sul.
Entre os colonizadores italianos
que aqui chegaram 140 anos atrás, foi especialmente a paúra da fame que motivou
na Mérica a busca pela cocagna. A propaganda oficial do governo
brasileiro não dizia isso, mas também não desmentia as lendas e boatos que
circulavam no Velho Mundo, dando conta de que na Mérica a fartura (cocagna) estava ao alcance de todos,
pois que se tratava de uma terra paradisíaca, em que até o salame e o queijo
frutificavam em árvores, bastava erguer a mão e colhê-los. Adeus, fame!
Claro que essa visão fabulosa
não convencia a maioria dos imigrantes, que sabiam muito bem que o que lhes
esperava aqui era muito suor, muito lavoro,
muito esforço para que conseguissem realizar o sonho de transformar suas
próprias vidas em algo melhor. Tão conscientes estavam do que a pretensa terra
da cocagna lhes exigiria, que
conseguiram, sim, fazer dessa história uma saga de sucesso, criando na região
da Serra do estado mais austral do Brasil um polo de desenvolvimento
referencial em toda a Mérica. A
famigerada fame que atormentava o
sono dos pioneiros foi exorcizada com o suor do trabalho e hoje em dia pode-se
até falar em fartura exagerada de comida nas mesas da região, enquanto que na
Europa moderna, agora distante das antigas crises, a cultura vigente é
justamente a de evitar o desperdício.
No momento em que se comemora,
com justeza, os 140 anos da imigração, talvez Caxias e região devam aproveitar
para lançar um olhar mais atento à situação daquela parcela de sua população,
pequena mas significativa, que ainda vive à margem da conquista da cocagna e em cujo cotidiano a fame segue encontrando morada. O desafio
de hoje é estender os benefícios do sucesso da colonização a todos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 21 de maio de 2015)
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