Quando a Seleção Brasileira
conquistou a Copa do Mundo no México, em 1970, eu estava a duas semanas de
completar quatro anos de idade e meus maiores interesses giravam em torno de um
Pato Donald de plástico em cujo bico eu fizera um furo a fim de alimentá-lo com
restos de minha própria comida, o que fez o brinquedo passar a cheirar muito
mal algum tempo depois e ser descartado no lixo.
Da Copa de 1974 eu recordo
vivamente da partida final entre Holanda e Alemanha Ocidental porque era
domingo, 7 de julho, véspera de meu aniversário, e havia festa lá em casa
devido à data. Porém, todas as atenções dos homens adultos estavam voltadas ao televisor
posicionado próximo à mesa com docinhos, refrigerante e o bolo de meus oito
anos. A Alemanha sagrou-se bicampeã mundial e recordo de meu avô paterno
festejando muito tudo aquilo e comentando a qualidade do jogador Beckenbauer.
Na de 1978, realizada na
Argentina, eu já era mais grandinho, tinha consciência de ser gremista e sabia
até os nomes de alguns jogadores não só do escrete nacional como também da
seleção anfitriã, como Kempes, Luque e Passarela. Uma televisão era instalada
na sala de aula para acompanharmos os jogos da Seleção Brasileira e foi ali que
comecei a aprender a torcer, observando as reações de meus colegas.
A Copa de 1982 foi a primeira
que acompanhei de fato. Decorei a escalação da Seleção, colei com Cola Tenaz em
um álbum as figurinhas dos jogadores de todas as equipes e assisti a todas as
partidas que pude. Sofri sozinho em casa a desclassificação da Seleção
Canarinho sob o chute certeiro do italiano Paolo Rossi. Era uma tarde nublada
de segunda-feira, e meu estado de espírito também se acinzentou com aquele
resultado adverso. Foi a primeira vez em minha vida que o futebol estabeleceu
comunicação direta com a minha alma e me integrei para sempre à imensa
população mundial que sofre e festeja com as derrotas e as conquistas de seus
times do coração.
Agora adulto, torço é para que,
muito além do futebol, os brasileiros possam dar exemplos de cidadania ao sediarem
ano que vem, uma Copa do Mundo, a ponto de podermos sair orgulhosos do evento,
independentemente do resultado que nossa Seleção obtiver nos gramados.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 31 de maio de 2013)
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