Não, não, não adianta. Lamento
muito, mas simplesmente não tem outro jeito. Você não vai aprender a escrever
bem, a organizar as ideias com coerência, a redigir com correção sem macular
seu texto com erros grotescos de escrita, a apresentar ao leitor um estilo
criativo e agradável, que valha a pena ser lido, se você não se transformar em
um grande leitor. E para ser um grande leitor, você precisa ler livros. Livros
de literatura, especificamente: contos, novelas, romances, crônicas, poesias, teatro,
essas coisas.
É assim que funciona, e pronto.
Não existe fórmula mágica para nada na vida, e essa lei (nada mágica) também se
aplica ao domínio da ferramenta da escrita. Para ocupar um espaço na imprensa,
ou no atual mundo virtual, ou mesmo nas estantes das livrarias, você precisa
honrar o ofício em que pretende se envolver (como, aliás, em qualquer outra
área de atividade), e dedicar tempo, suor e esforço a aprimorar-se nele. A
coisa, meu amigo, não cai do céu, por mais que você deseje (se essa coisa for
chuva, acaba caindo, sim, mas nem sempre na hora em que você espera, veja bem).
De resto, repito, é preciso esforço pessoal, caso contrário, você jamais vai
passar de um franco-atirador, que se desmascara a cada linha que (mal) traça,
engambelando alguns poucos durante pouquíssimo tempo. Você será sempre apenas
mais um aventureiro querendo fazer na marra aquilo que os outros se preparam a
sério para fazer.
Tracemos paralelos, para que a
compreensão melhor se dê. Um campeão olímpico de natação, por exemplo. Precisa treinar
durante muitos anos, desde pequenino, todos os dias, várias horas ao dia, para
chegar ao ponto de competir em uma Olimpíada e levar para casa a medalha de
ouro. Em o fazendo, terá superado uma penca de outros iguais a ele, tão bons
quanto ele, que também se esforçaram tanto quanto ele mas que, aí sim, naquele
específico dia, nadaram uma fração de segundo mais lerdos do que ele. É só aí
que entra em cena a sorte, o imponderável. O inexplicado só acontece para
aqueles que se prepararam com seriedade para receber as benesses desse
inexplicado.
Eu, por exemplo, que não nado
nada, jamais serei campeão olímpico de natação, e, se me jogarem na piscina
olímpica junto aos competidores, afundarei igual a uma pedra de basalto, mas
não conquistarei a medalha olímpica, nem por ação do inexplicado, nem por
milagre, porque aqui se trata de mundo real, e não de ficção. A ficção reside é
nas páginas dos tais livros, que a gente lê justamente para melhor compreender
a realidade, por meio de seus paralelos e metáforas. E assim como eu não nado
nada, também quem não lê (livros, literatura) não escreve nada. E ponto.
Lamento, não é birra minha.
Simplesmente é assim, e os exemplos estão aí, falando por si próprios. Pedras
não respiram, ratos não voam, água molha, a Terra é redonda e quem não lê não
escreve nada. E quem nada, nada.
Informar-se, ler jornais e
revistas em busca de notícias, navegar em sites e blogs e sítios na internet
atrás de atualizações, ler livros científicos para obter uma formação
profissional, são atividades inerentes à vida de todos os cidadãos que se
inserem no mundo. Porém, somente a leitura de literatura habilita esse mesmo
cidadão a tornar-se escritor e a ocupar sem desconforto (especialmente para os
leitores) os espaços destinados a quem se dedica com seriedade ao meio (igual
às piscinas olímpicas, que só são ocupadas por quem nada tudo).
Eu, de minha parte, não vejo a
literatura como uma religião que deva ser defendida por missionários
constantemente em busca de novos acólitos (quem lê sabe o que significa
“acólito”, pois não?). Por mim, lê quem quer e não lê quem não quer. Só não
tentem me convencer de que quem não lê consegue escrever bem. Porque não
consegue. Para tanto, é preciso suar os olhos na leitura, conforme fazia, por
exemplo, o saudoso jornalista e escritor Jimmy Rodrigues, falecido em junho
deste ano, que em certas épocas de sua longa vida chegou a ler um livro por
dia. Não foi por nada que escrevia de forma tão inigualável. Que pelo menos seu
exemplo permaneça e frutifique.
(Texto publicado na seção "Planeta Livro" da revista Acontece Sul, edição de julho de 2013)
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