terça-feira, 23 de julho de 2013

O alienado da Maestra


Enforquei meu banho matinal no sábado passado porque tive de pular da cama às 6h30 a fim de atender a um compromisso inesperado. Faça chuva ou faça sol, caia neve ou haja clima de deserto, meu banho diário se dá sempre logo depois do café da manhã, já que é a única forma de amansar a rebeldia de meus cabelos e me apresentar condignamente à sociedade. Cumpridas todas as tarefas, cheguei em casa no meio da tarde, antegozando o prazer de dali a pouco usufruir um inusitado, quente e restaurador banho vespertino, quando tocou o telefone.
Atendi e era minha cunhada do outro lado da linha (mas no mesmo lado da cidade), anunciando que estava com visitas em casa e sem água devido à momentânea interrupção no abastecimento causado no final de semana pelas obras no Sistema Maestra. Queria que eu verificasse se na minha casa ainda vinha água da rua para, em caso de necessidade, levar a turma toda para banhar-se no chuveiro de minha residência. Fui lá ver e, de fato, a torneira do lado de fora não expelia uma gota sequer do precioso líquido.
Avisei a cunhada que a falta de água também nos atingia e, como eu não estava sabendo de nada, havíamos metido roupas na máquina pela manhã, laváramos a louça do jantar da véspera e do desjejum e minha esposa se banhara alegremente antes do informativo telefonema. Ou seja: eu não tinha a menor ideia de como estava o nível na caixa d´água de minha casa. Sem falar que meu banho sabatino foi-se por água abaixo depois daquilo. Quem manda passar um dia sem ler jornal, sem entrar no site dos veículos de comunicação da cidade, sem sintonizar uma das rádios? A notícia estava lá (verifiquei isso mais tarde), para quem quisesse ver (e acumular água nas chaleiras, panelas e baldes) e se prevenir. Nem todos possuem uma cunhada informada e prestativa que telefona avisando.
Claro que o final da história é positivo: o abastecimento de água se normalizou (ao menos, na minha casa) ainda na manhã de domingo e pude rapidamente me recolocar em dia com os rituais de higiene que me são característicos sem ter de atacar os vidrinhos de perfume da esposa ou de secar o desodorante. Só o que permaneceu cheirando mal foi a circunstancial postura de cidadão desinformado. Contra a alienação, não há xampu que faça milagre.

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de julho de 2013)

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