Acontece muito comigo. Basta eu
me dispor a comparecer a algum almoço ou jantar comunitário, desses típicos
encontros festivos que em nossa região costumam ter lugar em salões paroquiais,
em que os extensos mesões de madeira abrigam animados grupos de amigos e
familiares confraternizando entre si e com desconhecidos, que a coisa acontece.
E é comigo o negócio.
Explico. A gente se abanca
(normalmente em bancos mesmo, formados por compridos tabuões de madeira
sustentados por cavaletes estrategicamente dispostos a cada três metros) em
algum ponto da mesona e já vai tomando posse, cada qual, de seu prato de
plástico (desemborco-o logo, para saberem que aquele tem dono), dos talheres e
do palito de dente, que muito útil será dali a pouco após a passada repetida
dos espetos com salsichão, galeto, costela, e mais a maionese e a salada de
alface e a de tomate com cebola, além da massa e do pãozinho (que nunca toco).
Vai-se comendo alegremente enquanto
acumulam-se, a um canto do prato, os despojos imastigáveis da saborosa comida
circundante, como os ossos das costelas, os ossinhos e cartilagens dos frangos
e algum pedaço mal passado daquele vazio que colocaram correndo no fogo porque
o salão lotou demais e pegou os assadores quase que desprevenidos. Solícito e
atento às necessidades de meus circundantes, costumo providenciar junto aos
servidores um pratinho para fazer as vezes de “cemitério” comunitário,
destinado a acumular os refugos vindos dos pratos de todos em volta.
Até aí, tudo muito lindo. O
problema se estabelece a partir do momento em que, estando todos já servidos e
chacoalhando os pés, ávidos para começarem as bailanças, passam a ser recolhidos
das mesas os utensílios utilizados no ágape: talheres, copos, pratos,
guardanapos, garrafas, vão sumindo sem deixar vestígios. Porém, via de regra,
justamente o meu prato é sempre esquecido e acaba ficando ele ali, sozinho na
minha frente, os ossinhos nus e frios das coxinhas de galinha a me olharem e a
escancararem a todos em volta o tamanho de minha gula saciada, como se só eu
tivesse me atracado selvagemente no repasto recém servido. Sempre, e só comigo.
Vai ver isso quer dizer alguma coisa...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de julho de 2013)
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