O cenário é um supermercado de
uma grande rede nacional. Forro o carrinho com as compras, pago no caixa e me
dirijo à porta do elevador que dá acesso ao estacionamento. O elevador chega,
entro conduzindo o carrinho e aperto o botão da garagem. As portas vão se
fechando quando avisto uma senhora se aproximando, também com seu carrinho
repleto de mantimentos.
Rapidamente pressiono o
botãozinho que mantém as portas abertas e espero a senhora chegar. Sem dizer
nada (aqui caberia um “muito obrigada”, por exemplo), ela entra apressada,
chocando seu carrinho contra o meu (instante em que cairia bem um “desculpe”) e
ocupando seu espaço na caixa semovente, completamente muda. Ao chegarmos na
garagem, a porta se abre automaticamente e eu volto a apertar o botão que a
mantém aberta, cedendo minha passagem à mulher. Ao manobrar seu carrinho para
fora, de novo bate no meu e se manda, muda como entrou, sem olhar para trás. Meus
ouvidos não registram nem “desculpe”, nem “por favor”, nem “obrigada”, nem “bom
dia”, nenhuma dessas coisinhas que indicam a diferença oceânica que existe entre
um brucutu medieval e um(a) cidadão(dã) civilizado(a).
Na garagem, a senhora
mal-educada ruma para sua caminhonetona, a fim de guardar as compras no
porta-malas e partir célere para sua residência, onde certamente uma família a
espera para o almoço. Noto, portanto, que não lhe faltam recursos financeiros
para a aquisição de um carrão e para as compras de estufar carrinho no mercado.
Faltam-lhe, sim, recursos humanos para exercitar a boa educação (aliás, me
pergunto que educação ela proporciona a seus filhos em casa...), a civilidade,
a cidadania, a convivência humana básica. Recursos esses que passam bem longe
da questão financeira, ressalte-se bem.
O papa Francisco está de visita
ao nosso país desde segunda-feira, para encontrar-se com jovens do mundo
inteiro. Um dos mantras de seu papado é justamente a preocupação que ele
demonstra com o que classifica como “a globalização da indiferença”. Concordo
com ele, mas acrescentaria que eu, aqui em Caxias do Sul, ando também muito preocupado
com a globalização da grossura. E se a grossura grassa entre os da minha
geração, só nos resta mesmo é depositar fé em alguma mudança a partir da
juventude. Caso contrário, o papo será caro...
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