Pois é, eu não acredito em
dinossauros. Não adianta, não adianta: não acredito. Já fui fascinado por esses
bichos pré-históricos nos tempos da minha (também mesozóica) infância, mas
hoje, quanto mais velho fico, menos fé neles deposito. Por que é que não
consigo acreditar na veracidade desses esqueletos encontrados quase intactos
nos mais diferentes pontos do planeta? Mas o que há de errado com meu
aplicativo de crença? Será que precisa ser baixado de novo?
Lembro-me das figuras que
ilustravam os livros de história e de biologia nos quais estudávamos no
primeiro grau (na Era Mesozóica, que habitei, o ensino fundamental se chamava
primeiro grau), mostrando que o petróleo, sugado por possantes máquinas lá do
fundo dos desertos e dos oceanos, era um líquido viscoso fruto da sedimentação
orgânica de restos de dinossauros. Ou seja: nos locomoveríamos em nossos
automóveis hoje em dia enfiando dentro dos tanques um mingau de dinossauros.
Balela! Eu, hein? Petróleo é petróleo assim como ouro é ouro, rabanete é
rabanete, uma rosa é uma rosa e a Carol Portaluppi é a Carol Portaluppi.
Falando em Carol Portaluppi, o que é que ela tem a ver com dinossauros? Nada,
né, e deixemo-la de fora disso.
Eu não sei como é que se deu
esse processo de eu ir desacreditando nos dinossauros ao longo dos anos de
minha jurássica existência. Os pedacinhos da fé que eu tinha neles devem ter
ido se desprendendo aos poucos e se estilhaçando nas calçadas da vida junto com
minhas crenças nas religiões, na reencarnação, na vida depois da vida, nos
discos voadores, no Papai Noel, na revolução socialista, no trotskismo, na
fraternidade universal, nos números da mega-sena, nos partidos políticos, no
Cid Moreira, na ONU, na boa fé alheia, nas relações desinteressadas, na
previsão do tempo, no último reforço pro meu time, no respeito ao consumidor,
na velocidade de minha banda larga, na digna aposentadoria do brasileiro, no crescimento
espiritual da humanidade. No Bicho-Papão e no Lobo Mau eu ainda acredito,
porque tenho encontrado diversos exemplares dessas espécies por aí, camuflados
sob os disfarces mais variados, inusitados e inesperados.
Acredito na Carol Portaluppi, por
enquanto. Mas, por favor, não me venham mais com dinossauros.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de julho de 2013)
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