Certa vez, na minha
adolescência, uma coleguinha de aula resolveu celebrar o aniversário de 15 anos
promovendo em sua casa uma festa a fantasia. Esse tipo de acontecimento não era
comum em Ijuí nos anos 1980 e a iniciativa dela causou alvoroço na cidade, a
gurizada disputando convites e traficando influências para se aproximar
rapidamente de seu círculo de amizades a ponto de conseguir ser admitido no
evento. Posso estar inventando, afinal, sempre vale a máxima de que “se non é
vero, é ben trovado”, mas, pelo que me lembre, saiu até notinha publicada no
jornal da cidade.
Eu e minha irmã éramos amigos
dela há muitos anos e figurávamos desde o início na lista de convidados,
portanto, passamos ao largo desse estresse. De minha parte, dediquei-me à crucial
tarefa de decidir qual seria o motivo de minha fantasia para a tal da festa.
Pouco tempo antes eu já havia causado sensação no colégio durante uma atividade
recreativa na qual fui fantasiado de Visconde de Sabugosa (eu era alto e magro
que nem um palito, portanto, minha caracterização funcionou perfeitamente) e
agora desejava repetir o feito, como forma de afirmação.
Decidi ir fantasiado de Conde
Drácula. Vesti uma blusa colante preta de minha mãe, calças pretas, tênis Bamba
pretos; transformei uma minissaia vermelha de minha irmã em capa; recortei em
cartolina umas garras compridas azuis que fixei sobre minhas unhas com Durex; ataquei
o estojo de maquiagem da mãe para produzir olheiras profundas com rímel e criar
sobrancelhas hediondas; meti uma chapa de plástico de brinquedo com caninos
pontiagudos e lá estava eu, o Conde Drakirstácula em pessoa!
Problema é que, na festa, decidi
encarnar o personagem e agi o tempo todo de acordo com o que eu imaginava que
seria o comportamento de um vampiro: fui sorrateiro, me esgueirei pelos cantos
da casa, não comi nem bebi nada (só observava o pescoço alvo da Carin), não
falei com ninguém, fiz cara de mau e ar blasé. Quando as meninas cruzavam
perto, eu gesticulava a garra com unhas de cartolina e fazia “graur”. Resultado:
até hoje não sei o sabor das guloseimas servidas e Carin passou a me olhar de
maneira esquisita. Não vejo a hora de descontar isso tudo numa próxima festa a
fantasia, em que irei transmudado em Dona Redonda, para tirar o atrasado e me
atracar nos croquetes. Desde aquela vez, aprendi a levar as coisas um pouco
menos a sério...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 6 de setembro de 2013)
Nenhum comentário:
Postar um comentário