“Pois, então, me traga dois
niples de cobre de meia polegada, duas luvas de quarenta para esgoto e dois
joelhos meia polegada, de cobre e com rosca interna”. Eram essas as derradeiras
peças que ainda faltava providenciar para que o encanador pudesse finalmente
concluir o processo de instalação das novas torneiras adquiridas para a casa.
Com a chave do carro em punho, pronto para decolar rumo à loja de materiais de
construção a duas quadras dali, flagrei-me desprovido de caneta e papel para
anotar as encomendas. Belo jornalista esse, sem caneta, sem papel, nem mesmo um
gravadorzinho para portar o pedido em viva-voz.
Mas havia meu cérebro, que
sempre me acompanha para onde quer que eu vá, municiado internamente com um
aplicativo de memória repleto de neurônios que já estava acionado e ser-me ia
muito útil. “Já volto”, anunciei, enquanto o profissional se botava a rosquear
uma das torneiras. Cinco minutos depois, eu adentrava as portas da loja
despejando aos ouvidos do atendente rapidamente a lista de minhas necessidades,
antes que me esquecesse: “Preciso de duas luvas de cobre de meia polegada, dois
niples para esgoto e quatro joelhos de quarenta qualquer coisa”, disparei,
convicto.
O atendente me olhou meio
espantado, afirmou que não existiam niples para esgoto, mas mesmo assim eu que
o acompanhasse até o final da loja, onde se localizavam essas peças, para
vermos juntos o que eu precisava. Aquilo me desconcertou um pouco, mas no fim,
com a boa vontade do rapaz, saí da loja faceiro, portando uma sacolinha
recheada com um joelho de meia polegada com rosca externa, oito niples de
plástico de meia polegada, seis luvas de vinte para esgoto, um serrote que não
sei como se enfiou no meio da história e uma bela chave de fenda com cabo azul.
“Não era nada disso que eu te
falei”, sentenciou, sem dó, o objetivo e prático encanador, mexendo com os
dedões dentro da sacolinha plástica e misturando joelhos com niples e luvas,
mas detectei nele um olhar de cobiça desferido à minha chave de fenda com cabo
azul, que logo tratei de levar a um lugar seguro no quarto das visitas, por
onde ele não tinha nada que circular. Enfadado, o encanador achou melhor voltar
junto comigo à loja, a fim de fazer pessoalmente o pedido correto. Agora estou
eu aqui, com esses niples e joelhos errados, sem saber que destino dar-lhes. Mas
antes urge providenciar um bloquinho e uma caneta.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de setembro de 2013)
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