Encontrei parentes e amigos no
final de semana passado em minha terra natal, Ijuí, distante 400 quilômetros de
Caxias do Sul. A sensação do encontro eram as fotos e filminhos que fizemos
aqui, pouco mais de duas semanas atrás, quando a Serra foi brindada com uma das
mais significativas nevadas de sua história recente.
Os telhados branquinhos, as
calçadas congeladas, as copas das árvores nas ruas parecendo um desfile de
pinheiros de natal que só se vê em filmes europeus e norte-americanos. As
pessoas encasacadas, enluvadas, entoucadas e enrodilhadas em cachecóis a
construir bonecos de neve na frente de suas casas e a brincar no alvo presente
da natureza, esquecendo o frio que nos encarangava as almas.
Pois é, isso tudo há tão pouco
tempo, e já aparentemente tão distante em nossas memórias, especialmente nesses
primeiros dias de setembro que agora nos empurram para o extremo oposto e nos
fazem pensar em camelos cruzando o deserto do Saara debaixo de um sol
esturricante. Olho para fora da janela e vejo um céu límpido, azul, pontilhado
de raras nuvens. O termômetro da sala bate na casa dos 24 graus centígrados
(positivos, né), e parece desconfortável ao lado da grossa jaqueta que ainda
pende esquecida no encosto da poltrona, pronta para ser vestida a qualquer
momento a fim de enfrentar o frio, a chuva, o vento, o inverno, que até ontem
ainda nos fazia reclamar e escrever crônicas evocando a visita do sol. Eis ele
aí, pois, a pedidos.
Saltamos de um frio de fazer
gemer urso polar em uma semana para esses calores de derreter dromedário poucos
dias depois, sem que haja tempo para uma transição paulatina que nos permita
irmos saindo dumas e entrado noutras com mais vagar. Até o clima parece ter
decidido entrar em sintonia com esses tempos modernos criados pela sociedade,
nos quais a correria, a transição ultrarrápida, a impermanência das coisas se
transforma em regra geral. Neve de madrugada, eclipse de lua com Vênus de
noite, calores desertificantes logo ali adiante, chuva e mais chuva daqui a
pouco... Todas as opções de clima, temperatura e pressão disponíveis no menu, a
fim de satisfazer a todos os gostos. Até a meteorologia parece estar
ingressando na era da customização de serviços.
Depois estranham quando uns
tomam chimarrão em trajes de praia em plena neve. Por pouco, não fui um
deles...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de setembro de 2013)
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