Sempre me perguntava a razão que
faz os trabalhadores da construção civil falarem tão alto uns com os outros ao
longo dos dias em que estão envolvidos na tarefa de erguer novos edifícios e
residências nessa nossa pujante Caxias do Sul, há anos transformada em um
imenso canteiro de obras. Além do ruído intenso proveniente dos afazeres
típicos decorrentes da construção (você não martela um tijolo de mansinho e nem
corta chapas de aço com o poder silencioso de sua mente), existe a conversação
entre os pedreiros e mestres-de-obras, invariavelmente entabulada aos brados
retumbantes, a ecoarem por entre os ambientes de cimento ainda vazios de
habitantes. Por quê?
Ora, basta pensar um pouco para
decifrar o enigma. Eles falam alto para serem ouvidos uns pelos outros, ora.
Como fazer Pedro, que está a erguer a parede de um banheiro no quinto andar,
para se comunicar com Wellington, que passa massa corrida nas paredes do
primeiro pavimento, pedindo a ele que, quando subir, traga junto a espátula
dourada, se não for por meio da elevação do tom de voz às alturas? E como
comentar dali do terraço os lances bola-murcha e bola-cheia dos jogos do final
de semana quando o Robinson atulha o carrinho-de-mão com sacos de cimento lá no
térreo, o Anderson descarrega a areia que chegou de caminhão ali na esquina e o
Jeferson alinha uma parede no sétimo, senão aos gritos?
A construção inteira é o
escritório deles. Estivessem todos ao mesmo tempo realizando tarefas na suíte
do casal na cobertura, ninguém gritaria, mas não é assim que a coisa funciona.
E querer que não se comuniquem justamente em nossa tão exaltada Era das Comunicações
seria um contrassenso repressivo démodé, deixemos disso.
Eu sou do tempo em que as
redações de jornais, repletas de máquinas de escrever, aparelhos de fax e de
telex e telefones barulhentos, faziam com que a jornalistada passasse falando
alto entre si, com os editores, com os revisores, com os diagramadores e
repórteres, e estes com suas fontes, e mesmo assim escrevíamos e nos
concentrávamos. A informatização e o advento dos fones de ouvido transformaram
as redações em ambientes sisudos, silenciosos e insípidos, iguais a salas de
espera. Espero que jamais o mesmo aconteça nos canteiros de obras, nos quais a
vida humana ainda se faz notar por meio da palavra. Em alto e bom som.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de setembro de 2013)
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