Entro no elevador no subsolo das
garagens, preparado para um longo trajeto até o décimo-primeiro andar. Não
durará mais do que 40 segundos, eu sei, mas sabe como são esses elevadores:
cubículos estreitos, lacrados, desagradáveis, parece que concebidos justamente
para que não despertem em ninguém a mais remota intenção de permanecer ali
dentro uma fração de segundo sequer além do necessário. Por isso, a vontade,
sempre, de que a viagem seja curta, sem paradas no meio do caminho.
Mas pronto. É só pensar nisso
que o danado estaciona já no térreo, para receber vizinhos rumo a seus
aposentos. As portas então se abrem e revelam as identidades de quem me fará
companhia ao longo dos próximos instantes: trata-se daquele jovem casal do
sexto andar, acompanhado pelo filhinho de cerca de dois anos de idade, que
entra alegremente acavalado sobre o pescoço do pai. “Oi, como vão” daqui; “olá,
tudo bem” de lá e eles vão entrando, ela com as sacolas de compras, ele fazendo
malabarismos com o garoto, que lhe escala o corpo a ponto de ficar de cabeça
para baixo um instante, a dar gargalhadas, eu segurando a porta aberta enquanto
eles se acomodam, e vamos em frente.
O elevador retoma seu movimento
metálico para cima, a suavidade intercalada com alguns estalos sempre
perturbadores, e o silêncio entre os adultos se instala como de praxe nesses
ambientes, apenas quebrado pela festa que o menino faz com o pai. Recebe
mordidinhas na barriga e gargalha, olhando para mim em busca de um sorriso
conivente que sua inocência induz a almejar. Sorrio-lhe de volta, embalado pela
sua alegria infantil e desmedida. Desnecessário haver medidas para a alegria
quando se é criança feliz em família, voltando para casa à noite com os pais,
brincando dentro de um elevador na presença de um estranho.
A caixa semovente estaciona no
sexto andar e abrem-se automaticamente as automáticas portas, convidando-os a
saírem. Ela sai primeiro, com as sacolas, seguida pelo marido, que se despede
de mim com um “boa noite” e diz ao filho: “dá tchau para o titio”. Ato contínuo,
o menino leva a mãozinha à boca, tasca um beijo e o atira para mim, acertando
em cheio minha alma, que não resiste e se debulha em uma gargalhada infantil
como há tempos eu não dava. Espontaneidade de criança é coisa altamente
contagiosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário