Existem dois tipos de finais de
semana: aqueles em que você só descansa e aqueles nos quais você se cansa. Em
sendo finais de semana, claro que, em essência, são sempre prazerosos, mas o último
enquadrou-se, para mim, na segunda categoria, uma vez que foi composto por uma
agenda intensa de atividades que incluíam duas longas viagens de automóvel
pelas nossas selvagens estradas, pouco sono, uma festa de aniversário, o
revisitar de parentes, almoços e jantares compartilhados e assim por diante.
Fui conseguir baixar a bola,
relaxar e descansar mesmo somente a partir do entardecer de domingo, quando
enfim pude calçar as chinelas, lançar-me ao sofá da sala, esticar as pernas
para cima do pufe e começar a folhear os jornais sabatinos e dominicais. Lá
pelas tantas deparei com uma notinha que me chamou a atenção. Dali a poucos
minutos, por volta das 19h, seria possível visualizar no céu, na altura do
poente, um raro fenômeno astronômico: a lua eclipsaria, durante alguns minutos,
o planeta Vênus, oferecendo um espetáculo bonito e único caso a noite estivesse
bela e clara.
Larguei o jornal, ejetei-me do
sofá e dirigi-me à janela da sala para constatar se a noite estava bela e
clara. Pois estava, e arrebanhei a família para descermos do prédio e irmos para
a calçada a fim de observar o eclipse diferente. Dito e feito, lá estava a lua,
no formato crescente, uma unha de luz rasgando o escuro do céu, sendo tocada de
leve em uma das pontas pelo brilho arredondado e intenso de Vênus, como um
diamante a reluzir na superfície de uma aliança.
Em silêncio, ficamos
contemplando aquilo, cada um imerso em seus próprios pensamentos e divagando
seus conceitos de poesia, quando alguém me perguntou quantos planetas existiam
no nosso sistema solar, além daquele Vênus que ali observávamos a distâncias
astronômicas e da Terra, na qual pisávamos. Falei então dos oito planetas e da
tristeza de os astrônomos terem, poucos anos atrás, demitido Plutão, o último
da fila, da lista oficial de planetas, reclassificando-o como um reles
planeta-anão.
Terminei o domingo entristecido
pela sina de Plutão, que, para mim, segue integrando minha listagem clássica
dos planetas de nosso sistema. Afinal, Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter,
Saturno, Urano e Netuno já estavam acostumados com a vizinhança dele. A gente
não deve se desfazer assim tão fácil de um amigo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de setembro de 2013)
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