A necessidade é a mãe da
invenção, já dizia Ugh, ao pé de um vulcão, espreitando dinossauros ao criar o
arco-e-flecha, artefato que lhe permitiria abater à distância suas presas sem o
perigo do contato físico de caçar à unha. Ao longo da evolução, viemos empilhando milhares de
exemplos de que o avanço tecnológico das parafernálias que nos cercam,
concebidas para tornar nossa existência mais fácil, se dá não tanto devido a
lampejos súbitos de gênios mas, sim, por causa de necessidades que se fazem
imperiosas.
Foi assim que ocorreu o
desenvolvimento, por exemplo, das comidas desidratadas. Se hoje trazemos do
mercado para as prateleiras de casa aqueles pacotinhos de macarrão instantâneo
e saquinhos com pozinhos que se transformam em sopa bastando verter água quente
sobre eles, é porque, décadas atrás, o homem inventou de querer caminhar pela
Lua. Sim, foi durante a aventura espacial das décadas de 1960 e 1970 que os
cientistas desenvolveram essas maravilhas gastronômicas em pacotinhos repletos
de pozinhos, porque, afinal, não constava nos pré-requisitos dos candidatos a
astronautas serem bons de avental e colher (e também ninguém pensou em colocar
um renomado chef em órbita junto com eles, na época).
Antes disso, surgiu o leite
condensado. Foi durante a Segunda Guerra Mundial que alguém teve a brilhante
sacada de criar um leite açucaradíssimo que se mantivesse conservado durante
meses na frente de batalha, garantindo aos soldados um acesso fácil a uma fonte
vital de calorias. Ainda bem que, junto, inventaram o abridor de latas, claro,
porque, caso contrário, as latinhas acabariam mesmo era sendo arremessadas na
cabeça dos inimigos na hora do pega.
O que fico aqui pensando, depois
que a embalagem de água sanitária adquirida no mercado vaza quase toda no
porta-malas do carro, pela enésima vez, é o quanto esse produto já teria
evoluído caso fosse vital dentro de uma cabine de foguete espacial ou em uma
frente de batalha. Não, definitivamente, soldados e astronautas não usam água
sanitária, esse produto que permanecerá fadado sempre ao fim da lista de
evolução tecnológica...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 30 de outubro de 2014)
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