Nesta data de 14 de outubro,
porém 108 anos atrás (em 1906, portanto, para facilitar a vida do leitor, que
não precisa ver-se obrigado a de repente ter de fazer cálculos justamente
quando abre o jornal para relaxar um pouquinho lendo uma croniqueta que se
propõe leve e despretensiosa, por favor). Botei um ponto ali depois do
fechamento do parênteses, para que possamos ambos (leitor e eu) recuperar o
fôlego e o fio da meada após uma intercalação tão longa, deixando
deliberadamente a frase inicial desprovida de qualquer sentido em termos
gramaticais, humanos e literários. Teremos de recomeçar.
No ano de 1906, em 14 de outubro,
ou seja, exatamente 108 anos atrás (agora, sim), acontecia em Portugal a
primeira prova de natação que teve lugar na Baía do Alfeite. A competição
entrou para a história dos esportes aquáticos daquele país, sendo conhecida
como “As 500 Milhas do Alfeite”, e foi vencida naquela sua primeira edição por
um inglês chamado Rumsey, morador da cidade do Porto.
Nada mais natural que uma prova
medida em milhas ser vencida em sua primeira edição por um inglês, penso eu
aqui, distanciado mais de um século do certame. Pena, no entanto, que não tenha
sido vencida em quilômetros por um português, que pudesse orgulhar seus
patrícios com o feito. Meu avô costumava se referir a essa famosa competição
contando uma piada, que envolvia dois dos nadadores, ambos portugueses. Eles
lideravam a prova, cumpridas 400 milhas e, faltando somente 100 para a chegada,
Manuel, uma braçada à frente, teria dito a Manoel, que nadava logo atrás: “Ó,
pá, estou a cansaire demais”. Ao que o Manoel teria respondido a Manuel: “Pois
também eu estou a cansaire. Acho melhor voltarmos”. Concordaram e deram
meia-volta rumo ao ponto de partida, distante 400 milhas, deixando a vitória ao
tal inglês Rumsey, que nadou tranquilo as 100 que restavam até a chegada.
Pena que não possa contar a piada
aqui, nesses tempos de policiamento politicamente correto. Eu seria massacrado
pela comunidade portuguesa. Abstenho-me, pois, e, tal qual os nadadores que
ficaram sem prêmio, fico eu sem crônica.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 14 de outubro de 2014)
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