O que faz de um poema um bom
poema? Quais elementos precisam estar presentes nos versos para que ele seja
classificado como poema “bom”? E quais as ausências que o condenam à queda para
a categoria de “mau” poema, ou de “poemeto de terceira”? Se o poema se pretende
“lírico” ou “romântico”, exigiremos nele interjeições como “oh”, “ah”, e
palavras como “lua”, “amada”, “alvura”? E se concretista, vamos querer que seja
cinzento e comporte construções cacofônicas e substantivos concretos como “tijolo”
e “cimento”?
É simples assim ou o furo será
mais embaixo? Façamos alguns paralelos, porque, às vezes, é mais fácil
compreender as coisas lançando luzes a situações similares. Tentemos. Música, por
exemplo. Como diferenciar música “boa” de música “ruim”? Ora, não podemos
incorrer na ingenuidade de defender estilos, uma vez que gênero musical é
questão de gosto pessoal. Mozart, se inquirido sobre isso, diria que, para ele,
música boa é a dos Beatles, assim como Lennon e McCartney jamais se esquivariam
de afirmar a qualidade da música de Beethoven e de Chopin.
Você poderia dizer que música
boa, cara, é a do Coldplay e pronto. Mas, mesmo assim, você admite que, dentro
da listagem das músicas deles, existem aquelas que você adora, acha geniais,
mas há também as medianas e, até, duas ou três bem ruinzinhas. Definições que
outro fã do Coldplay refutaria, classificando como “ótimas” até mesmo as que
você julga “ruinzinhas”. E aí, como é que fica?
Se quiséssemos ser mais
elegantes, abordaríamos essa sinuca filosófica irrespondível evocando um tema
mais complexo. Organolepticamente complexo, para sermos mais exatos (e mais
complexos). O vinho. O que é vinho bom? O que é vinho ruim? Meus amigos lá de Uvanova,
apoiados por meu avô, defendem que vinho bom é o de garrafão, colonial, “feito
de uva e sem química”. Já eu, aqui, gosto de desarrolhar uma garrafa com 600
mililitros de química malbec argentina, ou de química carmenére chilena.
Daí, pergunto: cadê a boa
poesia? Cadê a boa música e o bom vinho? Bem, uma vez que não há decretos,
ouçamos, degustemos e leiamos o que nos faz felizes.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de outubro de 2014)
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