Olha, gente, eu, por mim, Plutão
é planeta e ponto. Eu sei que, na condição de “cronista mundano” (que era como
o mestre Sérgio Porto classificava esses que escrevemos sobre o tudo o que há
no nada e o nada que há em tudo), eu não deveria ficar dando pitaco nas áreas
dos outros, mas tem vezes que a gente não resiste, como no caso do coitado do
Plutão.
Como todos que vivemos no mundo
da lua bem lembramos, Plutão foi rebaixado de sua condição de planeta para a
categoria de “planeta anão” em 2006, em uma decisão tomada por algumas centenas
de cientistas reunidos em um congresso internacional de astronomia. Plutão
estava lá, quietinho, cumprindo sua milenar trajetória orbital ao redor do Sol,
último da fila dos planetas, bem depois de Urano e Netuno, quando foi
surpreendido com a notícia de que estava expulso do seleto grupo dos planetas
do sistema solar. Assim, sem mais, sem direito a defesa, sem vez a voto e nem a
voz.
E o que Plutão fez em relação a
isso? Ora, nada! Continuou quietinho lá, nos confins do sistema, dando de
ombros metaforicamente, refletindo que “esses astrônomos são de lua mesmo, eles
que pensem o que quiserem a meu respeito”. E dê-lhe mais uma volta ao redor do
Sol, surfando na poeira estelar. Quem se indignou mesmo foram as pessoas
nascidas sob o signo de escorpião, que passaram a ser regidas por um rebaixado
planeta anão. Puro desaforo e discriminação astrológicas! Ficou parecendo coisa
de político populista querendo fazer moral com o eleitorado, apresentando plano
de redução e enxugamento tão astronômico que corta até o número oficial de
planetas.
Pois agora, às vésperas de novo
congresso internacional de astronomia, noticia-se que já existe um forte grupo
de cientistas (escorpianos, imagino) se movimentando para restabelecer a honra
perdida e o título surripiado de Plutão, reconduzindo-o ao status de planeta. Eu
aqui, mesmo canceriano e regido pela inconstante lua, sou a favor. Até porque,
tudo não passa de soberba humana, essa espécie que acredita ter poder de
influenciar o que existe tanto no céu quanto na Terra. Melhor fazer que nem
Plutão: dar de ombros e seguir rodando.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de outubro de 2014)
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