A minha memória jura de pés
juntos e uma antiga fotografia não a deixa mentir: sim, de fato, meu avô
possuía um garboso e elegante Galaxie verde. Mas não um verde qualquer: um
verde-pérola, um verde diferente, único. O verde daquele Galaxie dele era o
verde do Galaxie de meu avô, nenhum verde outro se comparava àquele. Assim
também se dava com o azulaço que revestia o Maverick de meu pai. Que azul,
aquele!
Depois veio o Opala, que apresentava
uma cor assim meio amarelada, mas um amarelo fraquinho, aguado, quase creme,
tipo essa cor que adquire o chantilly do cappuccino quando a gente mergulha a
colher e mistura tudo, gerando na xícara uma sopa de chantilly e café. Isso,
bem isso, esse amarelo aí que surgiu na sua mente. Era assim o amarelo do
Opala. Uma família de amigos possuía um fusca alaranjado, um laranja-abóbora.
Tão abóbora que um cavalo cravou-lhe certa vez os dentes, faminto que estava e
iludido pela maravilha daquela abóbora redonda e gigante estacionada ali, do
ladinho do potreiro dele. Nhac e pléim! Foi-se o capô do fusca junto com a
dentadura do cavalo. Verdade! Minha memória afirma. Não, dessa vez, sem fotos; terão
de acreditar em mim.
Bons tempos aqueles, em que o
arco-íris gostava de passear pelas ruas das cidades e pelas estradas do
interior derramando sua paleta de cores sobre os automóveis, trazendo alegria
visual ao trânsito. Diferente dessa pobreza cromática que desfila hoje pelas
avenidas, cruzamentos e esburacadas rodovias. Carro vai, carro vem, e o que
vemos? Branco, preto, cinza, vermelho. Vermelho, branco, preto, preto, cinza,
cinza, cinza, branco, preto. E só. Ali, de vez em quando, um verdinho
desgarrado. E depois, branco, preto, vermelho, cinza. Isso sem falar que branco
e preto, convenhamos, chamamos de cores por delicadeza, né! Que pobreza!
Por que será que o arco-íris
fugiu das estradas? Será que as cores voltam no dia em que o trânsito amansar?
Só pode ser isso: a violência do trânsito deve ter amarelado as cores. Ou, quem
sabe, os carros brancos são os coloridos que branquearam de susto com a
imprudência dos motoristas. Só pode, só pode...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 17 de outubro de 2014)
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