O dia 5 de outubro de 1984, 30
anos atrás, caiu em uma sexta-feira. Não posso afirmar em detalhes o que eu
estava fazendo naquela data exata, mas, como ainda administro minhas
lembranças, consigo ter uma ideia devido ao contexto em que estava inserido.
Junto com essas recordações nubladas, é possível resgatar algumas certezas.
Uma dessas certezas é de que eu
era, na época, um jovem estudante universitário cursando o segundo semestre de
Jornalismo na Universidade Federal de Santa Maria. Sim, aquele jovem ali era
eu, apesar da magreza dos 62 quilos, da hirsuta barba e cabeleira típicas do
então militante trotskista, da pastinha preta da Comunicação exibida com
orgulho pelas ventosas ruas da cidade e dos bolsos repletos de certezas
absolutas e verdades prontas a mudarem o mundo para melhor. Nesses bolsos havia
também muita disposição para participar de um movimento estudantil que se unia
de ponta a ponta no país com diversos outros movimentos sociais que exigiam a
recuperação de um direito básico dos cidadãos: o de votar diretamente para
presidente da República.
Trinta anos atrás, circulando
naquela sexta-feira de 5 de outubro pelas ruas de Santa Maria a caminho de
alguma aula de Introdução ao Jornalismo ou a algum debate do Diretório
Acadêmico ou a alguma assembleia estudantil para produzir algum panfleto
combativo ou a algum encontro da comissão organizadora da Feira do Livro (eram os
estudantes da Comunicação que organizavam a Feira do Livro de Santa Maria na
época), eu sonhava com o dia em que os brasileiros pudessem ir às urnas escolher
pelo voto direto o presidente da Nação. Mas ainda havia muitas pedras no
caminho a serem removidas, a começar por uma ditadura militar que aniversariava
duas décadas de desmandos no Poder.
E, de fato, não foi nada fácil. Neste
domingo, 5 de outubro, 30 anos depois, ir às urnas já se consolidou como ato
corriqueiro em uma democracia estabelecida, na qual os desafios são outros e
cruciais para a construção de uma nação em que haja cidadania plena para todos.
Cabe a cada um de nós saber usar com consciência esse direito conquistado a tão
duras penas. Vote bem!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de outubro de 2014)
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