Um dos mais importantes
escritores vivos brasileiros completará 90 anos de idade daqui a pouco mais de
mês, mais especificamente, no dia 11 de maio. Trata-se do contista e romancista
mineiro Rubem Fonseca, nascido em Juiz de Fora em 1925, radicado há décadas no
Rio de Janeiro, de onde vem produzindo e levando a público obras de temáticas
viscerais narradas em um estilo ágil, seco, cru, inconfundível.
De sua lavra saíram livros que
vêm se tornando clássicos contemporâneos ao conseguirem a proeza de agradar à
crítica e serem, ao mesmo tempo, bons de venda. O pano de fundo de seus livros
costuma ser permeado por elementos que unem violência urbana, miséria,
degradação, erotismo, criminalidade. Ou seja, seus personagens da ficção
transitam por uma realidade comum à maioria dos brasileiros reais que não leem
livros, tornando-a um pouco mais real para aquela parcela dos outros
brasileiros que ficam sabendo dela por meio dos noticiários. Rubem Fonseca é o
autor dos anti-heróis e conquistou relevância no cenário literário nacional
exercitando prioritariamente o gênero conto, no qual enfileira diversos de seus
mais afamados títulos.
Lembro dele nessa intersecção
entre o findar do mês de março e o iniciar de abril porque, até algumas décadas
atrás, nessa época, quando ainda vivíamos sob uma ditadura militar aqui no
Brasil, os quartéis impunham a todas as instituições nacionais que se
comemorasse aquilo que eles chamavam de “revolução de 1964” e que todos
sabíamos que havia sido mesmo era um golpe de estado. Vivíamos um regime de
exceção pontuado por totalitarismo, fim das liberdades democráticas, censura,
tortura, corrupção e coisas assim. Foi nesse cenário que, em 1975, 40 anos
atrás, Rubem Fonseca publicou um de seus mais importantes livros de contos,
intitulado “Feliz Ano Velho”, que acabou censurado e impedido de circular pela
ditadura. Os ditadores não queriam que o público lesse narrativas em que
houvesse violência, criminalidade e sexo, porque no Brasil inventado pela
ditadura essas coisas não podiam existiam. Só que existiam.
Tapar o sol com a peneira e
optar pela cegueira nunca foi e nunca será a solução para os problemas que
existem. Felizmente, sempre haverá aqueles, como Rubem Fonseca, que insistem em
furar a peneira do conformismo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 31 de março de 2015)
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