Precisamos ser mais humildes em relação à importância que conferimos a
nós mesmos enquanto seres individuais e enquanto espécie. Humildade significa
consciência a respeito do nosso real valor e significado perante a existência,
e maior consciência representa libertação interior, tolerância e mais
capacitação para aprimorar a convivência com nossos iguais. A humildade pode
ser o mais eficaz instrumento de promoção da cidadania de que a civilização
humana já dispôs.
Nós, seres humanos, temos tendência a cultivar uma autoimagem
estratosfericamente positiva a respeito de nós mesmos. Achamo-nos os donos do
pedaço e cremos ser plausível a crença de que somos imortais ou qualquer outra
coisa semelhante que a providência providencialmente providenciou para nós.
Alta autoestima, claro, não faz mal a ninguém. Porém, prepotência crônica
pode levar à autodestruição. Segundo estimativas feitas pelo Population
Reference Bureau, uma agência americana especializada em pesquisas sobre
questões populacionais, desde o surgimento da raça humana até os dias de hoje,
já viveram cerca de 107 bilhões de pessoas sobre a Terra. Somados à atual
população vivente de 7 bilhões, chegamos ao número de 114 bilhões de seres
humanos já produzidos no planeta. É gente, hein?
E cabe tudo isso no céu, pergunto eu? 107 bilhões de pessoas se
acotovelando lá entre as nuvens, engarrafando, sujando e tumultuando o paraíso?
Sem falar que, desses 107 bilhões de seres, quantos deles deixaram algum sinal
relativo à sua passagem pela vida? A mais absoluta maioria (99,999999%, talvez)
nasceu, viveu, sofreu, sonhou e morreu sem imprimir nenhuma marca na História.
Seus corpos viraram pó e sua lembrança virou fumaça. Dá no que pensar, não é
mesmo?
Para mim, isso tudo funciona como um bálsamo. Ciente de minha insignificância
e de minha inegociável finitude, procuro aproveitar o milagre que me foi
concedido e viver uma vida o mais plena possível, valorizando-a ao máximo e
também a de meus semelhantes, companheiros de inexplicável aventura,
respeitando-os de forma cidadã. Deveria bastar essa percepção para que o mundo
fosse um lugar mais agradável e tolerante para vivermos essa tão curta, única e
instigante experiência que é a vida.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de março de 2015)
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