Será o meu mel que ela busca
aqui no alto do décimo-primeiro andar do prédio em que moro? Ela, não: elas,
pois são mais de uma. Essa aqui, de hoje de manhã cedinho, fica dando
espiadelas no meu dedilhar o teclado do computador já às sete e meia. Põe-se a voejar
freneticamente quase sem sair do lugar do lado de fora e chama a minha atenção
sempre que dá batidinhas de leve no vidro.
Estivesse o vidro aberto, ela já
teria entrado, essa abelha, a exemplo daquela que ontem de tarde invadiu a sala
a partir da porta que dá para o terraço. Irmã desta, prima, colega de trabalho,
ou, quem sabe até, ela mesma, a própria, que segue hoje aqui, a me fazer
companhia. Uma abelha-leitora, quem sabe? Interessada em acompanhar in loco o processo de produção de meus
textos e depois levar notícias de mim para as companheiras operárias da
colmeia? Extraio o mel de sua singela visita, repleta de poesia - dessa poesia
que reside no fato de ser visitado no alto do décimo-primeiro andar de um
prédio de concreto por uma pequena abelha.
Dia desses, minha esposa,
sentada no sofá, à noite, descansando após mais um dia de rotina extenuante,
foi surpreendida pela coceirinha que faz na pele do braço o caminhar de uma
doce joaninha. Uma joaninha cor-de-laranja repleta de brotoejas pretas, que também
surgiu ali, àquelas horas, sabe-se lá vinda de onde. É a natureza que se
esforça em se fazer presente em meio ao avanço do cimento, resistindo ao
processo de expulsar pequenos seres para longe e para os baús da memória
afetiva de cada um de nós.
E foi exatamente na tentativa de
resgatar um pouco da memória de tempos recém-passados, em que o contato com os
pequenos seres insetais da natureza era mais comum no dia-a-dia das crianças
que já fomos, que o artista plástico Antonio Giacomin e eu concebemos o livro
“Insetolândia: Uma Viagem ao Redor do Quintal”, repleto de aquarelas (dele) e
croniquetas (minhas) sobre as nuances de vinte desses bichinhos. O lançamento e
a sessão de autógrafos ocorrem neste
sábado, dia 28, lá na Livraria e Café do Arco da Velha (Rua Dr. Montaury, 1.570),
em Caxias do Sul, das 10h até as 13h. Estão todos convidados a dar uma
passadinha lá. Não sabe onde fica? Pergunte a qualquer formiga na esquina...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 28 de fevereiro de 2015)
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