Durante os primeiros anos da
década de 1970, o dia 10 de abril revestiu-se como uma data de luto, tristeza e
dor para os fãs do rock and roll e da cultura pop ao redor do planeta. Foi na
manhã daquela sexta-feira, 10 de abril de 1970, que o músico e compositor
britânico Paul McCartney anunciou para a imprensa mundial que ele estava saindo
dos Beatles e que a banda, adorada por milhões de fãs em todo o mundo, estava
oficialmente esfacelada. Foi uma bomba que devastou almas.
Paul reuniu a imprensa para
anunciar, de surpresa (até mesmo para os seus agora ex-colegas de banda), o lançamento
de seu primeiro álbum-solo (intitulado simplesmente “McCartney”), contendo 13
faixas totalmente compostas por ele e musicadas por ele mesmo (Paul gravou
todos os instrumentos em seu estúdio particular, da bateria aos teclados, ao
baixo e às guitarras). E, de lambuja, disse que estava deixando os Beatles. E
sem Paul, não haveria mais Beatles (aliás, sem qualquer um dos quatro de
Liverpool jamais haveria chance de a banda seguir existindo).
Acabava-se, naquela manhã de
sexta-feira, 10 de abril de 1970, um longo sonho que havia embalado a vida de
milhões de pessoas. O epitáfio “o sonho acabou”, para referir-se ao fim dos
Beatles, foi legado pela genialidade de John Lennon ao lançar seu próprio
álbum-solo em 11 de dezembro do mesmo ano, ao final da faixa intitulada “God”
(“Deus”). Só que, passado o luto, a vida seguiu em frente, como ela sempre faz,
revelando que, na verdade, ainda havia muito a ser sonhado.
Nas décadas seguintes, os quatro
ex-Beatles deram asas às suas carreiras-solo, presenteando o mundo com novas
pérolas oriundas de suas genialidades criativas, mantendo também viva e sempre
acesa a chama da banda que haviam criado e legado à História. A verdade disso
tudo é que sonhos podem sempre ser renovados, transformados, reinventados,
apesar dos percalços, das pedras no meio do caminho. Passados 45 anos da dissolução
da banda de rock mais influente da história, o dia 10 de abril, hoje,
configura-se apenas como uma nota histórica imutável, mas o luto em relação a
ela passou. O segredo é saber reconfigurar sonhos que fazem de conta que
terminaram.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de abril de 2015)
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