Eu gosto de símbolos, de
analogias, de metáforas. Gosto de me encantar com o poder poético que os
símbolos, as metáforas e as analogias exercem ao representarem aspectos da
realidade de maneira alegórica, indireta, evocando o raciocínio, a imaginação,
a sensibilidade, o espírito, para que façamos a conexão necessária e, em um
lampejo sublime, alcancemos a compreensão. “Insight”, resumem os psicólogos;
“epifania”, “êxtase”, afirmam os místicos.
Encantamento e pura poesia, fascino-me eu,
evocando mais uma vez o mantra do mestre português da poesia, quando ele
pessoanamente diz: “Ah, tudo é símbolo e analogia!/ O vento que passa, a noite
que esfria/ São outra cousa que a noite e o vento -/ Sombras de vida e de
pensamento”. Como nos ensina o luso poeta, o vento que passa é muito mais do
que somente o vento que passa, quando capturado pelo olhar poético. O vento que
passa se transforma em símbolo e analogia, podendo significar mil cousas
outras, dependendo das sombras que fizermos surgir da vida e do pensamento. O
vento que passa é a realidade concreta: é noite, está frio, tem vento. Mas o
vento que passa na noite que esfria pode carregar analogias, metáforas,
símbolos, transubstanciando-se em sombras de vida e de pensamento. Eis a magia.
Penso nisso nesta Sexta-Feira da
Paixão, feriado em todo o mundo cristão em decorrência do martírio a que foi
submetido Jesus Cristo há mais de dois mil anos, na Palestina, ao ser pregado e
morto na cruz, conforme narra a Bíblia. Não sei se a figura histórica daquele
homem denominado Jesus existiu realmente, pois isso é uma questão que cabe aos
cientistas debater. Também não sei se, em tendo existido, era mesmo o Filho de
Deus, pois isso é uma questão de fé, e a fé de cada um exige e merece respeito.
O que sei é que o símbolo dessa saga evocada por esse personagem e pelos
eventos que o cercam é muito poderoso e significativo. Em resumo, representa o
extremo das consequências enfrentadas por alguém que assumiu para si uma missão
super-humana: trazer à humanidade uma proposta de vida embasada no amor
recíproco, na paz, na tolerância, na comunhão e no exercício do melhor que
temos dentro de cada um de nós.
Uma mensagem revolucionária ao
extremo, tão carregada de força mítica, que segue sendo um desafio atual e
válido, a ser perseguido por todos. Boa Páscoa!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de abril de 2015)
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