Desde que o mundo começou a
civilizar-se, é sabido que o cultivo de hábitos culturais é a mola propulsora
básica e fundamental para o desenvolvimento de um povo. Uma nação civilizada,
que seja propositiva no cenário internacional, que tenha condições de
gerenciar-se positivamente, de encontrar saídas criativas e sólidas para a
solução de seus problemas, só se constrói de verdade a partir da formação em
seu seio de cidadãos plenos. E cidadãos plenos só existem se possuem relação
com a educação e com a cultura. Se não, não. Ponto.
Nós, brasileiros, estamos caminhando
alegres e céleres em marcha-a-ré na pista da relação entre povo e cultura.
Enquanto os povos sérios, desenvolvidos, correm para a frente, nós damos as
costas para a linha de chegada e arrancamos com entusiasmo para trás, cada vez
mais distantes de qualquer meta minimamente razoável, e o fazemos com a
prepotência típica do adolescente inconsequente e dono da verdade, que é o que
somos enquanto nação, rumo à catástrofe. Entre civilização e barbárie, optamos
claramente pela barbárie, encalhados nos sofás de nossas salas assistindo à
televisão, enquanto o tempo passa e a História vai sendo construída do lado de
lá de nossas fronteiras.
Exagero do cronista? Vamos,
então, aos fatos. A Fecomércio do Rio de Janeiro divulgou, poucos dias atrás, o
resultado de uma pesquisa que fez em todo o território nacional, analisando a
relação dos brasileiros com os hábitos culturais, e os números apresentados são
estarrecedores (apesar de nada surpreendentes, infelizmente). A pesquisa enfoca
o que os brasileiros fizeram (ou não fizeram) em termos de ações culturais no
ano de 2014. Para começar, 70% dos entrevistados não botaram a mão em sequer um
livro para ler. Só isso bastaria, mas tem mais: 89% não assistiram a uma peça
de teatro; 73,7% não foram ao cinema; 80,6% não foram a show; 92,5% não
visitaram exposições de arte; 91,2% não foram a espetáculos de dança. Ufa! É o
quadro do horror.
E por que isso? Por uma simples
resposta, também detectada pela pesquisa: falta de hábito ou de gosto. Ou seja:
desinteresse puro e simples. E quem é a vedete das horas de lazer dos
brasileiros? Fácil: a televisão (programas de auditório, futebol e BBB) e a
internet. Ordem e progresso, né? Só na bandeira mesmo...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de abril de 2015)
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