Recebi um telefonema do Pioneiro
solicitando que eu comparecesse ao jornal dia tal, horário tal, para renovar a
foto de minha cara, que encima esta coluna, porém, desta vez, usando um chapéu
típico dos imigrantes italianos. Lá fui e cá estou, devidamente enchapelado,
conforme o amigo leitor e a senhora leitora já devem ter percevisto, ali em
cima.
Isso de estar de chapéu é algo que
soa um pouco estranho para quem nasceu já na segunda metade do século 20,
quando o uso dessa elegante peça do vestuário masculino estava em franco declínio.
Cresci com a cabeça desprotegida do aconchego dos chapéus, os cabelos loiros
(isso no antanho, bem no antanho) a esvoaçarem pelas ruas de Ijuí, os
pensamentos a correrem soltos pelos paralelepípedos da cidade, as lições da tabuada
e as conjugações no pretérito do subjuntivo fugindo livres e não criando raízes
em meu cérebro oco e deschapelado. Sim, porque, além do valor que possui como
estética, tenho convicção de que os chapéus cumprem também a importante e
educativa função de manter coesas e latentes dentro da cabeça as informações e
os temas que estudamos, auxiliando no aprendizado e na memorização. Tivesse eu
estudado de chapéu em casa na adolescência, não teria até hoje de mexer os
dedinhos na hora de calcular mentalmente quanto é sete vezes oito.
Apesar de charmoso e útil, o
chapéu foi perdendo espaço na sociedade devido a uma série de fatores
conjugados. Entre eles, por exemplo, o advento do automóvel no cotidiano das
pessoas. Sim, porque, uma vez que uma das principais funções do chapéu sempre
foi proteger a cabeça dos cidadãos contra as intempéries, as queimaduras do sol
e a atividade metabólica das pombas, ele passou a ser supérfluo a partir do
momento em que começamos a dispender boa parte de nosso tempo encapsulados dentro
dos automóveis, que são bem mais difíceis de pendurar nos cabides dos salões de
dança, por sinal.
O movimento contracultural dos
hippies nos anos 1960 também teve seu peso, uma vez que a moda passou a ser
deixar os cabelos crescerem livres, leves e soltos, impossíveis de serem embalados
dentro de qualquer espécie de chapéu, cartola ou sombrero. Assim, foram-se os
chapéus e ficaram as cabeças, ocas ou não, ralas ou melenudas. Mas para a criativa
iniciativa do Pioneiro, ah, para isso, eu tiro o chapéu!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 14 de abril de 2015)
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