Vejo ao longe, da janela de meu
escritório, o balançar dos galhos da frondosa araucária que domina o centro de
uma quadra no bairro ainda desprovida de concretos. A árvore ocupa lugar de
destaque no centro do cartão-postal que os quadrangulares limites da janela
definem sempre que abro-a todas as manhãs, deixando entrar o sol (quando o dia
é de sol) ou a neblina (nos dias de nuvens) e as primeiras nuances de mais um
dia.
“Bom-dia, bela árvore”, desejo a
ela em todos os alvoreceres, ao que ela me responde sempre ao longe com um
sutil menear de seus galhos robustos e silenciosos. Às vezes, quando dou uma
pausa do trabalho frente à tela do computador, para dar uma folga ao pensamento
e deixá-lo divagar, repouso o olhar sobre a imagem da árvore que de lá me faz
companhia, e fico a admirar suas formas exuberantes: o longo tronco desnudo que
se ergue do solo seguro, forte, para explodir no alto em um punhado de galhos
arqueados a ofertarem em cada ponta um circular ramalhete de verdes folhas,
como se fosse um doceiro de mil braços a vender algodões-doces vegetais. Elegante
design da natureza, criado para encantar os olhos de quem os tem a serviço da
pescaria do Belo, onde quer que ele se esconda.
Que idade terá esse exemplar da
mata nativa que se exibe em sua exuberância nessas quebradas do bairro? Mais
velho do que eu? Contemporâneo? Um irmão mais novo, um tio, um avô? Não sei,
não sou cientista, não conheço e não sei capturar os sinais que a árvore
certamente emite e que desvelam o tempo de sua existência. Ainda bem. Assim,
posso colecionar em relação a ela mais um mistério, porque é de mistérios que
se moldam os encantos e não quero perder um milímetro sequer do fascínio que
cultivo por minha amiga vegetal solene, impávida, muda e presente.
Ontem amanheceu ventando forte.
Acordei mais cedo com o chacoalhar das persianas contra os vidros das janelas e
fui descerrar a do escritório para logo saudar a minha amiga araucária. Seus
braços de polvo revolviam-se frenéticos pela ação do vento, em um aceno
conturbado e tresloucado de galhos a chacoalharem revoltos. Ah, temos mais algo
em comum, amiga araucária: esse vento norte também te transtorna! Mas, se ela
segue firme, encontro em sua imagem a força para enfrentar também eu mais um
dia. Sim, bom-dia para você também, e vamos à luta!
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