segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Como se chama

Lindonjonson é irmão de Julbelânio e os dois são irmãos de Ozeano. Os três rapazes são naturais de Água Branca, na Paraíba, mas moram há anos em Bauru, São Paulo. Eles integram uma família numerosa, composta por 14 irmãos, na qual as moças têm nomes comuns, porém, os rapazes foram agraciados com a criatividade da mãe, que, pelo visto, não tinha limites. Como ela morreu já faz muitos anos, os irmãos perderam a chance de desvendar diretamente na fonte a motivação para a escolha dos nomes, e o pai só sabe dizer que “ela inventava”.
Ah, tem também o Edriano e o Clelço, e fica-se a imaginar quais seriam os nomes dos demais irmãos homens, uma vez que a matéria no site da internet resolve parar por aí mesmo. A partir dos depoimentos, não é difícil detectar as dificuldades que o quinteto vem enfrentando ao longo de suas vidas na hora de soletrar os nomes nas mais variadas ocasiões em que isso se faz necessário. Felizmente, todos levam a situação na esportiva, se divertem mais do que se estressam e nenhum deles sequer cogita em trocar o nome agora na idade adulta, uma vez que isso é possível de ser feito legalmente. Todos preferem honrar e manter a decisão materna, afinal de contas, o nome é elemento fundamental na conformação da personalidade de cada pessoa.
Nenhum deles, portanto, correrá o risco de proceder igual ao personagem de um “causo” que meu avô passa as décadas a contar como verdade. Segundo ele, nos tempos em que era sargento no quartel em São Borja, havia um soldado que tinha vergonha do próprio nome. Ele se chamava Pedro Brinco, e detestava o nome. Tanto foi que, certo dia, conseguiu convencer o chefe do cartório da cidade a fazer a troca, e passou dali em diante a se chamar João Brinco. Suponho que, desde então, viveu mais feliz e reluzente.

A verdade é que essa coisa de nome depende ainda muito da boa vontade do funcionário que recebe dos pais o pedido no balcão do local de registro. Eu, por exemplo, deveria me chamar Marcus Fernando Kirst, com “u” no Marcus, ao invés de “o”. Meus pais desejavam o nome na forma latina clássica, para homenagear um amigo do pai que virou meu padrinho. O funcionário não deixou, alegando que “Marcus” não era forma brasileira de nominar. Ao que tudo indica, o tal funcionário passou longe dos cartórios da Paraíba. E eu, há 47 anos, sou Marcos, mas penso e ajo como Marcus.
(Crônica publicada em 17 de fevereiro de 2014)

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