Não tem como não se emocionar
com a matéria de capa de ontem do jornal Pioneiro.
O ato heroico da dupla de irmãos Daniel (cinco anos) e João Pedro Michelin
(três anos), ao salvarem do afogamento na piscina o síndico do prédio em que
moram, Armindo Gargioni, 65 anos, em Caxias do Sul, alcançou alta repercussão,
e não é para menos.
Trajando os uniformes de alguns
de seus super-heróis preferidos dos quadrinhos e da TV, Batman (Daniel) e The
Flash (João Pedro), os heróis-mirins estavam à vontade entre os braços
agradecidos do amigo que pescaram da morte ao perceberem que se afogava na
piscina em que havia entrado para dar um mergulho. O reencontro do trio,
ocorrido domingo no quarto do hospital em que o salvado se recupera, foi
temperado de emoção e alegria e registrado para a história pelo Pioneiro. Os heróis de carne e osso,
sorridentes e orgulhosos, faziam poses dos super-heróis da ficção trajando os
uniformes dos personagens, para a câmera do fotógrafo.
Mas eles não enganam ninguém: todos nós já
conhecemos suas identidades nada secretas e admiramos seus feitos, sua índole,
sua determinação, seu destemor, sua preocupação para com o próximo, sua
empatia, sua consciência cidadã, sua certeza de saber o que é o certo a ser
feito. No curso natural da vida, o mais comum é as crianças projetarem nas
figuras de seus pais e dos demais adultos que os cercam (professores, parentes,
ou mesmo ídolos da mídia) o perfil de heróis em cujos exemplos se espelham. Mas
Daniel e João Pedro inverteram essa lógica.
Passamos todos a admirar a
duplinha como exemplo de bons cidadãos. Ou melhor, de bons seres humanos. Ou,
melhor ainda: de boas pessoas. Aquelas boas pessoas que todos nós já fomos um
dia e que esquecemos de continuar sendo quando transformamos o trânsito em um
inferno incivilizado, quando adotamos a postura do
“eu-por-mim-e-o-resto-que-se-dane”, quando furamos fila, quando nos achamos os
mais espertos, quando agimos daquelas maneiras horrorosas que nos fazem cair
dentro do enorme grupo dos “folgados” que o colunista do Pioneiro Gilberto Blume tanto (e tão bem) identifica.
A atitude dos nossos pequenos
Batman e The Flash nos enche de esperanças em relação a um futuro melhor a ser
construído por quem nos sucederá no palco da vida. E esses protagonistas já
estão em ação. Tomara que sejam maioria.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de fevereiro de 2014)
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