Não sou pai, mas posso imaginar
que, quando as férias de verão se aproximam, surge sempre o mesmo dilema: o que
fazer para entreter as crianças? Hoje em dia, sei que alguns optam pela saída
mais fácil (e menos recomendável), que é a de renovar o estoque de joguinhos
eletrônicos e de dvds, sem esquecer de reforçar o forro do sofá da sala, onde a
galerinha acampará ao longo dos meses que lhes cabem longe dos cadernos (ainda
se usa caderno em sala de aula?). Outros, no entanto (e felizmente), se
esforçam um pouco mais e buscam alternativas criativas.
Meus pais, nos idos dos anos
1970, quando eu era criança, buscavam essas alternativas criativas, até porque
ninguém sonhava, na época, com a existência de joguinhos eletrônicos e muito
menos com a possibilidade de assistir a filmes em casa que não fosse
sintonizando a televisão na Sessão da Tarde. Pois eis que, então, deu de surgir
lá em Ijuí a febre das colônias de férias. “Ah, que boa ideia, arrebanhar a
gurizada e jogá-los juntos, o dia inteiro, ao longo de algumas semanas, numa
colônia de férias, de onde só saem para virem dormir em casa”, alegravam-se os
meus pais e os de outras dezenas de coleguinhas. “Ó vida, ó céus”, pensava eu,
arrumando a mochilinha, vestindo o calção e a camiseta, calçando o tênis Bamba
(Kichute não, porque entortava os pés) e indo para a frente do portão, aguardar
a chegada da Kombi do Quartel que me tiraria de meu quarto, de meus livros, de
meus gibis, das histórias em quadrinhos que eu tinha de produzir, para me levar
a mais um looooongo e penoso dia de... colônia de férias!
Pois tinha mais essa: a colônia
de férias, lá naquela Ijuí de minha infância, era promovida pelo Quartel.
Éramos entregues às mãos de sargentos, cabos e soldados que se punham, com
aquela didática e pedagogia infantis que se pode muito bem imaginar, a nos
enfileirar em ordem unida, a marcharmos à cadência da corneta e do tambor, a
dizermos “sim, senhor!”, a rirmos obrigatoriamente da piadinha incompreensível
gritada pelo instrutor, a fazermos flexões e polichinelo, a jogarmos futebol
(minha tática era sempre correr para o lado oposto da bola), a suarmos feito
doidos.
Saudades? Sim, da hora do
lanche. Pães com margarina e mortadela, tirados por um soldado boa praça de um
enorme e profundo latão, acompanhados por um copão de Toddy bem gelado. E que
alegria quando voltavam as aulas!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de fevereiro de 2014)
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