Muitos
vão se surpreender com a revelação, mas adoro acampar! Ah, que delícia essa
determinação em abandonar, durante um final de semana inteiro, o conforto aborrecido
do lar equipado com as traquitanas mais modernas em termos de eletrodomésticos
já inventados pelo homem para facilitar a vida dos seus semelhantes, e poder
enfiar-se no meio do mato, junto aos mosquitos, às cobras, aos animais
uivantes, às aranhas e escorpiões, passando calor, frio e necessidades!
Como
é delicioso levantar antes do raiar do dia para atulhar o carro com os
apetrechos da barraca que só nessa hora percebemos não ter sido aberta há mais
de meio ano e agora está toda cheia de teias de aranha, mofo, terra e as aranhas
elas-próprias. Que desafio instigante para o cérebro e para nossa autoimagem essa
tarefa de conseguirmos empilhar toda a bagagem dentro do porta-malas, nos pés
dos acompanhantes e na capota, com as caixas de isopor cheias de latinhas de
cerveja geladérrimas que estarão mornas ao chegarmos e estupidamente quentes ao
abrirmos, mais a carne para o churrasco, os sacos de carvão (para variar,
esqueceremos em casa os fósforos e é certo que teremos problemas), os espetos
que espetam os pés da Aninha do início ao fim da viagem e a fazem reclamar sem
parar, enchendo os nossos ouvidos que estavam mais dispostos a escutar o cantar
dos pássaros, o trilar dos grilos, o chilrar dos... das... o que é que chilra
mesmo? Enfim, para apreciar os sons da natureza.
Depois
dos solavancos divertidos proporcionados pelos buracos da estrada cavada no
meio do mato e abandonada há anos, mas que você insistiu em pegar apesar dos
protestos de todos os outros que agora batem com as cabeças no capô a cada pulo,
enfim chega-se ao local escolhido para o camping, que tão divertido será,
longe, bem longe do ar-condicionado da sala, do chuveiro com temperatura de
água regulável, do vaso com papel higiênico (”Marcos, você lembrou de trazer o
papel higiênico, Marcos? Eu não tinha te falado, Marcos...?”), da geladeira
repleta de sorvete e cerveja gelada (ah, que alegria uma cerveja morna e
sacudida degustada no breu absoluto do mato porque ninguém sabe acender
fogueira sem usar os fósforos que permanecem no aconchego da distante e saudosa
casa).
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de fevereiro de 2014)
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