Que, futebol, que nada. Caixinha
de surpresas é a vida! Dela, ninguém ganha em termos de capacidade para nos
presentear surpresas inimagináveis a cada nova esquina dobrada. Dia desses, por
exemplo, descobri que eu sou uma dupla sertaneja. Desdobro-me em dois lá em
Goiânia para formar a dupla Marcos & Fernando. “Ora, vejam, só, estou até
lançando disco novo”, pensei com os botões dourados de minha camisa desabotoada
até o umbigo, sentado na cama, devorando um salgadinho e assistindo ao
intervalo comercial do Domingão do Faustão.
Desejoso de saber um pouco mais
sobre mim mesmo, saltei da cama espalhando farelos por todo o lençol e fui até
o escritório abrir o notebook. Não demorou para eu descobrir que tenho site
oficial, que possuo milhares de fãs, que já lancei vários discos e que estou na
estrada desde 1999 (15 anos, portanto, de sucesso e nunca tinha ouvido falar de
mim mesmo). Li as biografias do Marcos e do Fernando, aprendi muito sobre cada
um deles, perscrutei as capas dos discos e me senti preparado para o passo
seguinte, o mais importante de todos: conhecer minhas músicas.
Um de meus maiores sucesso se chama “Cafajeste”. Não quis começar com
essa. Cliquei no álbum intitulado “Help”, imaginando encontrar algum canal de
comunicação com o universo dos Beatles, mas não. O link abriu e o ambiente do
escritório já foi sendo invadido por uma música (??) que dizia assim: “Bará
bará bará/ Berê berê berê/ É o Marcos e Fernando/ Fazendo bará berê”. E seguia:
“Alô galera, tô na área/ Tudo pode acontecer”. Desliguei rapidamente antes que
a coisa prosseguisse. Eu temia por tudo o que poderia acontecer dali em diante.
Fiquei um pouco atordoado. Então
eu era isso? Olhei para o pacote de salgadinhos devorado pela metade. Olhei
para os farelos sobre os lençóis. Fitei os olhos gritantes do Faustão na tevê
chamando... “Marcos e Fernando”! Bom... dizem que duas coincidências já não são
mais coincidências. Nesse caso, parecia mais assombração mesmo. Belisquei-me e
não acordei.
Não há nada que eu possa fazer.
Marcos e Fernando existem e tudo pode acontecer. “Bará bará, berê berê”. É...
tem lógica... Bará... Berê... Sempre se pode tirar proveito de algo, pois não?
Mas, por enquanto, cansei de surpresas.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 28 de fevereiro de 2014)
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