Se o calendário indica ser
Véspera de Natal e se você está com sua família em Uvanova, aquela pequena e
simpática cidadezinha típica de colonização italiana encravada no seio da Serra
Gaúcha, vizinha a Tapariu e limítrofe de Vila Faconda, então, não tem outra:
trate de lavar as orelhas e pentear o cabelo que você, antes de fartar-se com a
lauta ceia, destrinchar o peru, abrir um espumante, dar e receber presentes,
antes disso tudo, em estando em Uvanova, você terá de comparecer à missa
natalina que será realizada na igreja da praça principal, com a presença de,
senão toda, no mínimo uma parte significativa da comunidade. Só você vai estar
ausente? Não, né. Então, você vai.
Você vai sabendo que, por maior
que seja a igreja, os bancos estarão todos ocupados nessa missa especial, que é
a de Natal, marcada para iniciar-se às oito da noite. Você e seus familiares
sabem disso. Por isso, a fila do banho já se inicia no meio da tarde,
preferência para as mulheres, que, sendo seres mais complexos e misteriosos,
precisam de mais tempo para o processo do arrumar-se, os homens ficando para as
levas finais, bastando a eles (nós) o banho, o perfuminho atrás da orelha, o
pente repartindo o cabelo e o sapato preto lustrado. Os ponteiros do relógio
correm e a ordem é estarmos todos dentro do carro no mais tardar às sete e meia
para garantirmos lugar dentro da igreja, já que hoje vai lotar, toda Uvanova
sabe disso, sabemos disso nós também.
Sabemos disso porque somos
pessoas que aprendemos com os equívocos do passado e entre nós não tem mais
essa de ficarmos em pé a missa inteira no Natal porque perdemos tempo em casa
enquanto os demais uvanovenses chegavam cedo e ocupavam os lugares nos bancos.
Nananinanina! Desta vez chegaremos cedo e nos posicionaremos bem, está tudo
organizado, estratégia pensada com antecedência, todos colaborando para que
tudo desse certo no final e... Bom, deu tudo errado.
Deu tudo errado porque
subestimamos a capacidade dos demais uvanovenses de aprenderem também eles com
os erros do passado e, ao invés de meia hora antes da missa, como nós,
apareceram uma hora antes. Quando chegamos, não havia mais banco para nós.
Assistimos à missa em pé, mais uma vez. Ano que vem, trataremos de chegar duas
horas antes. É preciso saber reorganizar constantemente as estratégias nesse
mundo moderno, mesmo estando em Uvanova.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de dezembro de 2015)
Nenhum comentário:
Postar um comentário