Quando detectei a data, não pude
resistir e corri ao aparelho de som (sim, eu ainda uso aparelho de som) para
colocar a tocar o CD (sim, eu ainda escuto música via CD) que celebra hoje, 3
de dezembro, suas bodas de ouro (“Ele é
um verdadeiro homem de lugar-algum, sentado em sua terra de lugar-algum”). Cinquenta
anos, meio século. Não é pouca coisa, em termos de vida humana (na média, mais
da metade), mas é relativamente pouco em termos de História da humanidade (“Fazendo todos seus planos nonsense para
ninguém”). Mesmo assim, tempo suficiente para consolidar sua importância na
transformação cultural do mundo ocidental e comprovar a vitalidade perene
daquilo que é feito com talento, gênio e dedicação (“Não possui opiniões próprias, não sabe para onde está indo, não se
parece um pouquinho como você e eu?”).
Em 3 de dezembro de 1965, o
mundo começava a tomar contato com as 14 faixas do sexto álbum de estúdio dos
Beatles, “Rubber Soul” (“Alma de Borracha ”), e a detectar, pela qualidade das
músicas, que uma transformação profunda acontecia na banda, com músicas mais
elaboradas, novos instrumentos agregados aos arranjos, temáticas mais complexas
sendo abordadas. Dali em diante, os Beatles nunca mais seriam os mesmos, já que
inovação com genialidade e talento foi sua marca registrada desde o começo até
o fim. Na verdade, “Rubber Soul” foi apenas o indicativo do que estava por vir
com as revoluções subsequentes de “Revolver” (1966), “Sgt Pepper´s Lonely
Hearts Club Band” (1967), “White Album” (1968), “Abbey Road” (1969) e “Let it
Be” (1970).
Há meio século que nos
encantamos e surpreendemos com as histórias de um homem que pertence a lugar
algum, não tem opiniões e vive uma vida de nada (“Nowhere Man”); evocamos a
nostalgia das pessoas e lugares que marcaram nossa vidas (“In My Life”);
lembramos de antigas paixões que se foram como pássaros (“Norwegian Wood”);
suspiramos por “Michelle” e confessamos que, se precisássemos de alguém para
amar, esse alguém seria você (“If I Needed Someone”), entre outras composições
imortais.
Os parabéns não vão só para o
álbum que aniversaria, mas sim para todos os que sabem revitalizar suas
próprias existências com o passar dos anos, evocando o que a humanidade é capaz
de produzir de melhor. Afinal, que triste seria o mundo caso não tivesse havido
Beatles, não é mesmo?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de dezembro de 2015)
Nenhum comentário:
Postar um comentário