Alguém instituiu, não sei quem,
não se se é oficial ou não, mas circula pela internet e, devido à intenção, ao
conceito e à essência, é válido. Mas alguém instituiu que o dia 20 de dezembro
é o Dia da Bondade. Funciona como uma espécie de preparativo dos espíritos para
a chegada do Natal e é interessante que alguém se preocupe em fazer algum
movimento, como esse, direcionado a resgatar o verdadeiro sentido da data que,
pasmem, vai muito além (juro) da obediência automática aos ditames da mídia e
do comércio, que transformaram (com a conivência de cada um de nós, não tente
tirar o corpo fora) o espírito natalino em espírito compralino.
Eu sou contra o espírito
compralino. Eu acho sinceramente que o mundo anda precisando de doses
cavalares, astronômicas, de retomada de valores humanos e éticos que reconduzam
a sociedade ao caminho da convivência cidadã. E isso é pra ontem. Porque, vou
te dizer, a coisa tá danada. E não tá danada só mediante os descalabros que
chegam ao tapete de nossas salas pelo despejar de barbaridades do tubo da
televisão. Não é só isso. É pior. O descalabro se manifesta ao alcance de
nossos passos, no nosso cotidiano, nas calçadas, no trânsito, nas relações
pessoais e impessoais, em tudo. Eu iria terminar esse parágrafo escrevendo que
“somos cada vez menos humanos”. Mas não é isso. Somos, isso sim, cada vez menos
cidadãos, porque ser cidadão significa a evolução social da essência humana
que, pelo visto, é bem complicadinha.
Daí a importância de se
instituir um Dia da Bondade. Não significa – como podem vir a se apressar a
detonar os mais apressadinhos detonadores de plantão –, não significa passar a
agir como bonzinho no dia 20 de dezembro e assim achar que lavou a alma e que
então está apto a “voltar ao normal” nos demais 364 dias do ano, sem contar os
bissextos. Significa, ao menos nessa data, que há um simpático convite para
refletir a respeito e, se for o caso, mudar algumas atitudes e, em outros
casos, reforçar outras. Só isso, aliás, já faria uma baita diferença.
E não, não sou uma Pollyanna,
que acha que o mundo vai mudar porque existe uma artificial data relacionada à
bondade. Mas tenho convicção absoluta de que a via da mudança (longa, dura,
penosa, lenta e sutil) não passa, mas não passa mesmo, pela exacerbação do
espírito compralino. Ah, boas festas!
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