Como o pessoal sabe que eu gosto
do meu escritório, já que é dentro dele que passo a maior parte das horas dos
meus dias das minhas semanas dos meus meses dos meus anos, volta e meia eu
ganho presentes e mimos destinados a serem usados naquele ambiente, muitos
deles (dos mimos e dos presentes) dados com o intuito de facilitar a minha vida
e o meu trabalho. Aceito-os sempre com ampla disposição e profundo
agradecimento, pois que gosto de ganhar presentes e a melhor forma de
incentivar as pessoas a dá-los (a mim) e a continuarem dando-os é demonstrar a
elas como seus esforços valem a pena e são recompensados pelos meus sorrisos e
manifestações de gratidão, o que as deixa felizes e a mim também.
Claro que, no andar dessa
carroça, acaba acontecendo de algumas vezes meu escritório ficar um pouco
infestado com determinados objetos sem utilidade alguma, normalmente aqueles
distribuídos como brindes por empresas para seus clientes e funcionários, como
um porta-canetas de plástico com um calendário impresso, no qual a gráfica e/ou
o assessor de marketing se esqueceu de mandar imprimir o ano ao qual se refere,
coisas assim. As agendas, no final de ano, viram providenciais torres sobre as
quais posso repousar a xícara de café e a fatia de bolo do lanche da tarde sem
ameaçar a integridade física do teclado do notebook, por exemplo, e, no fundo,
tudo se resume a uma questão de criatividade.
Agora ando às voltas com um
trequinho que minha esposa ganhou de brinde e trouxe para dentro de meu
acolhedor escritório, onde espera que ele (o trequinho) ganhe vida útil e
justifique sua existência em minhas mãos (ah, pobre trequinho!). Trata-se de um
estojinho de couro, ladeado por um porta-canetas e em cujo interior repousam
papeizinhos coloridos com cola adesiva na parte superior, usados como
marcadores. Minha esposa então me ensinou que os papeizinhos verdes podem ser
usados nos livros em que pesquiso para designar datas importantes; os amarelos,
para indicar fatos cruciais; as azuis, para as citações. Adorei e pus-me a
tacar etiquetinhas coloridas nas páginas dos livros que pesquiso. Só que perdi
a legenda do significado de cada cor e agora não entendo bulhufas das marcações
feitas. Vou ter de ler tudo de novo. E só quem segura a vontade louca de
arremessar pela janela o estojinho é o cavalo que mansamente pasta no terreno
baldio lá embaixo. Indigestão, basta a minha.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 17 de dezembro de 2015)
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