Pode ser simbólico ou mesmo
metafórico que na crônica de ontem o tema abordado tenha sido as nuances que
movem a paixão. A paixão e seus mistérios, como a que ocorreu com Jandira e Zé,
personagens do filme “Alguém Qualquer” (de Tristan Aronovich, Brasil, 2012), e
que serviu de pano de fundo para tratar do texto de ontem, é um tema que se
pode considerar à altura de pontuar a milésima crônica de um cronista mundano.
Sim, porque ontem, estimada
leitora, prezado leitor, este mundano cronista atingiu a marca das mil crônicas
publicadas em sua carreira, tergiversando, vejam só, sobre a paixão, esse
inescrutável sentimento que move boa parte das ações humanas. Não poderia mesmo
haver tema mais abrangente, vital e humano como a paixão para marcar o milenar
aniversário, pois não? Claro que sim, porque são os frutos da paixão que o
cronista irá colher para alimentar as linhas dos textos que precisa produzir
com a intenção de esquadrinhar as nuances da existência e oferecê-las em forma
de banquete escrito ao paladar dos leitores. Pois que é a paixão de um cineasta
que produz o filme abordado na crônica; é a paixão do escritor que concebe o
livro; é a paixão do líder que transforma a história; é a paixão de um povo que
altera o rumo de uma nação; é a paixão de um anônimo que gera a notícia; é a
paixão da Natureza que cria a borboleta e assim por diante.
Mil vezes, até ontem, essas
grandes e pequenas paixões motivaram este esforçado cronista a compartilhar
seus encantamentos com os leitores, nestas e em outras páginas ao longo dos
anos. Hoje, compartilha sua milésima primeira, sucumbindo lucidamente à
tentação de evocar a carga simbólica do número 1001, que conduz ao conceito de
infinito, tal qual expresso no título das “Mil e Uma Noites”, dando a entender
que, se mil já retrata o imensurável, acrescente-se a ele ainda um a mais, e
sempre mais um, e mais um e...
Mil e uma crônicas não significa
obter um passaporte para o infinito. O mundano cronista sabe que tudo na vida é
cíclico, passageiro e finito. Mas é justamente na compreensão dessa finitude
que reside a força de paixão necessária para darmos sequência a todos os nossos
projetos, visando, sim, ao empreendê-los, a infinitude de seu alcance e de suas
consequências. Que a vida de cada um possa ser movida por mil paixões e mais
uma.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 31 de dezembro de 2015)
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