Conforme comecei a contar ontem
aos estimados leitores e às valorosas leitoras, a sexta edição do Bloco da
Velha que, domingo, reuniu público recorde de 20 mil foliões pelas ruas da
cidade, trouxe-me alguns dissabores por conta de meu amigo Argentino,
carnavalesco de primeira hora desde que adotou Caxias do Sul para viver há 20
anos e prestigiador do evento criado e organizado pelo pessoal da Livraria e
Café do Arco da Velha desde a primeira edição. Estava eu tranquilo em casa,
lendo um livro de Daniel Defoe (detalhe que não concorre em nada para a
compreensão da história, mas vá lá, em se tratando de Carnaval, a tolerância
alheia aumenta e aproveito-me), quando meu telefone toca e é o Argentino,
desesperado, informando que havia perdido seu celular no meio daquele oceano de
gente, de ala-la-ô e de serpentina.
Para me avisar do ocorrido,
Argentino pedira emprestado o “teléfono” de um amigo que recém havia feito ali
na turba, chamado Ralphson. “Que quer que eu faça?”, perguntei a Argentino. “El
teléfono caiu do bolso de minha bermuda creo que bem no início da la caminhada”
(o Bloco da Velha sai em passeata dali do centro, defronte à livraria, e
dirige-se pela Rua Os 18 do Forte até o Largo da Estação, em São Pelegrino, por
quadras e quadras), disse-me ele, em meio ao ala-la-ô ala-ô circundante, que
dificultava a compreensão. Consegui entender que Argentino queria que eu saísse
de casa e fosse até a região de onde partira a procissão carnavalesca,
vasculhar a rua para achar seu telefone, que eu conhecia bem, revestido com uma
capinha de celular com a bandeira da Argentina.
“Por que você não dá meia-volta
e vai até lá você mesmo?”, perguntei, bastante lúcido”. “Pero no me puedo
locomover-me de acá... la multitud es muy, muy, muy compacta, Marcos. Usted no compreendería!
Es impossible dar la vuelta. Estoy en el ojo del furacán! Solo puedo seguir
adelante junto com la turba, e adelante, e adelante! No hay como volver”,
respondeu ele, transtornado. Não me restava outra alternativa senão apaziguá-lo
prometendo que, sim, eu sairia da tranquilidade de minha casa onde lia um livro
de Daniel Defoe e iria até o centro da cidade, vasculhar a Rua Os 18 do Forte
nas primeiras quadras do início do desfile do Bloco da Velha, à cata de seu
precioso telefone celular que deveria estar caído por ali. Que me restava
fazer? Amigos são para essas coisas (coisas como essas, sim, é que são
específicas para amigos do Argentino, mas, vá lá), e fui. Vejam amanhã o que rolou
alalaô-alaô.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de fevereiro de 2016)
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