Eu sabia de antemão que aquela
relação teria vida curta. Mesmo assim, efetivei nela a aposta, convicto de que,
mesmo efêmera, valeria a pena, pois legaria à memória frutos únicos e
inolvidáveis. Nada é eterno, tudo passa, mas tudo o que é bom vale a pena ser
vivenciado, mesmo que passageiro, justamente por sabermos que, enquanto
tivermos acesa a chama da memória para recordar, a lembrança será o legado mais
duradouro que guardaremos conosco a partir das experiências ao longo de nossas
também por demais curtas existências. Pensando nisso foi que dei o passo
adiante, convicto, e buzinei.
Buzinei para chamar a atenção do
vendedor de flores que nas sextas-feiras se posiciona em certa esquina na
entrada do bairro em que moro, do qual já sou cliente há algum tempo. Compro flores
dele, sempre que dá no jeito (às vezes estou sem dinheiro na carteira, outras
vezes o fluxo do trânsito me impede de estacionar nas proximidades, vezoutras a
maldita pressa se interpõe no caminho da poesia). Compro rosas. Rosas de todas
as cores possíveis e imagináveis (até mesmo as cor-de-rosa, clássicas,
elegantes, majestosas perante as demais, às quais dirigem ares superiores
mesclados a certa condescendência floral). Semanalmente vou alternando as cores
dos buquês de rosas que levo para alegrar o ambiente do apartamento, então
decorado com contornos de aconchego de lar.
Dessa vez fui capturado direto
pelo buquê solitário de rosas azuis. Elas se destacavam entre todas as demais
que vinham se oferecendo a mim ao longo do trajeto do florista até a porta de
meu carro. Enrolados em jornais que os protegem e unem, os buquês disputam as
atenções do freguês com ansiedade semelhante à dos cãezinhos e gatos órfãos que
clamam por adoção e carinho de donos que os queiram. Por mim, levava todas. Mas
vou alternando. Semana passada levei rosas amarelas. Antes, alaranjadas. Lembro
do sucesso que fazem também os buquês mistos, de cores variadas. Mas dessa vez
levei as azuis clarinho, um tom que jamais havia detectado em rosas. Rosas
azuis.
Era um início de tarde de
sexta-feira quente, muito quente. Cheguei em casa e imediatamente coloquei-as
nos vasos com água, sabendo que seu tempo de vida seria curto devido ao calor.
Mesmo assim, duraram, valentes e generosas, quase uma semana inteira. Mas valeu
a pena. O relacionamento com uma rosa sempre vale a pena, independentemente da
duração. Essas rosas azuis não vão murchar tão fácil de minha lembrança.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 13 de fevereiro de 2016)
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