O medo é a condição psíquica
natural dos seres humanos, responsável pela maioria das ações e pensamentos que
movem a humanidade desde a época das cavernas até esses dias regidos pelas
redes sociais. A incerteza do que está por vir, do que pode nos acontecer ou
deixar de acontecer gera angústia e apreensão e vivemos estressados,
amedrontados, lutando contra adversidades reais e imaginárias e nos precavendo
contra possíveis futuras desgraças. Gerenciar esse medo primordial é o segredo
para uma vida tranquila e é aí que entra em cena a importância dos sistemas
sociais e filosóficos concebidos para reger a vida em sociedade, gerando
instrumentos para que possamos aplacar na medida do possível esses temores e
vivenciarmos uma vida mais plena. Nem sempre dá certo.
Como não temos, a princípio, a
habilidade de prever o que o futuro nos reserva, precisamos viver um dia de
cada vez, sabendo que é seu somatório que, com o passar do tempo, vai se
constituir no tão temido futuro, essa entidade temporal que, a bem da verdade,
não existe. Mas não seria reconfortante se fôssemos dotados do dom da
precognição, aquela habilidade paranormal que permite sabermos de antemão os
eventos que estão reservados às pessoas e ao mundo nos dias futuros que, por
ora, só existem previstos e impressos nas folhinhas dos calendários e das
agendas?
Profetas, visionários e paranormais
preenchem vastas páginas da história da humanidade, nem sempre sendo encarados
como embusteiros ou estelionatários, mas, ao contrário, levados a sério por
muita gente (inclusive e especialmente pelas castas dirigentes), em muitas
partes do mundo, ao longo de muito tempo. Sabe-se que até Júlio César mantinha
adivinhos em Roma que previam o sucesso (ou não) de suas batalhas. Há quem bote
as cartas, há quem tenha sonhos, há quem perscrute as estrelas e mesmo o voo
dos pássaros para adivinhar o futuro. Nos Estados Unidos, hoje (2 de fevereiro)
é o Dia da Marmota, em que comunidades de várias regiões geladas aguardam o
movimento desse roedor, típico daquelas paragens, ao sair de sua toca para
prever se o fim do inverno está próximo ou ainda se alonga.
Eu não sou adivinho, mas ousarei
uma profecia. Não temos marmotas aqui no Brasil, mas não demorará muito para
estarmos também celebrando o Dia da Marmota, imitando os ritos culturais da
matriz norte-americana. Vide o Halloween, que agora fazemos igualzinho a eles.
Vai que um dia imitemos também a seriedade no combate à corrupção. Alguém
arrisca uma previsão aí?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de fevereiro de 2016)
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