Quebrei um copo. Fui tentar
pegar um coador que estava atrás do copo, no armário aéreo da cozinha e, ao
invés de primeiro retirar da frente o copo, inventei de esgueirar o braço por
cima e pelos lados e em ziguezague ao redor do copo e o óbvio aconteceu: ao
puxar de lá de trás o coador, veio abaixo o copo estatelar-se sobre a pia e a
quebrar-se em vários irremediáveis pedaços. Foi-se o copo devido a uma atitude
estúpida. Minha. Minha culpa, minha máxima culpa.
O resultado, na maioria das
vezes em que optamos por uma atitude estúpida, costuma ser justamente a
catástrofe. É por isso que classificamos de estúpidas as atitudes que resultam
em catástrofes evitáveis, como essa, de tentar pescar um objeto interposto por
um copo e decidir seguir fazendo-o sem retirar antes o copo da frente. Ninguém
se machucou e o prejuízo foi quase nulo, mas o fato é que eu gostava daquele
copo. Muito saciou a minha sede aquele copo transparente de vidro, pelo qual eu
nutria uma predileção especial na hora de tomar água, ou suco. Não gostei da
maneira como deu-se o fim dele, especialmente por ter sido eu e minha estupidez
os causadores de seu desaparecimento como copo. Triste imagem a do corpo do
copo.
Também não levarei tamancadas
devido à simples quebra do copo, que não buscarei omitir ou camuflar. A senhora
minha esposa é compreensiva nesse quesito (ao menos, assim espero eu e imagino
– torço – que assim também esperem os nobres leitores e as estimadas leitoras,
afinal, era apenas um singelo copo, mas, por via das dúvidas, será que custa
muito caro uma passagem urgente só de ida para Adis Abeba? Preciso consultar
minha agente de viagens...). A questão é o simbolismo e o aprendizado que se
pode tirar da equação é: atitude estúpida plenamente evitável = pequena
catástrofe doméstica. Quantas vezes já fizemos ou ouvimos falar de gente que
fez coisas assim que resultaram em problemas maiores do que a singela quebra de
um copo?
Sempre que fazemos besteira,
pensando em retrospecto, percebemos que desde o início poderíamos ter evitado o
desfecho infeliz pois que, lá no fundo de nossas almas, aquela vozinha da
sabedoria (o Grilo Falante que aconselhava Pinóquio) já estava a nos alertar
desesperadamente que retirássemos o copo de vidro da frente do coador. Mas
teimamos em não dar ouvidos e seguimos em frente em nossos desatinos diários. Enquanto
o saldo se restringir a apenas um mísero copo quebrado, saímos no lucro. Mas a
voz sempre está ali. O segredo reside em aprender a ouvi-la.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de fevereiro de 2016)
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