Ô balancê, balancê! Quero dançar com você! Entra na roda, morena, pra
ver! Ô balancê, balancê! Ao contrário do que possam pensar a briosa leitora
e o circunspecto leitor, eu não sou daqueles que detestam Carnaval e que
aproveitam os dias da folia que sacode o Brasil de ponta a ponta para resmungar
contra os festejos de Momo e purgar raivas blasfemando, trafegando na contramão
da alegria geral. Não sou nada contra o Carnaval. Sou, isso sim, contra eu
mesmo durante o período de Carnaval.
Bumbum paticumbum prugurundum, o nosso samba, minha gente, é isso aí!
O problema durante os dias de Carnaval é que eu me torno uma pessoa
insuportável, praticamente inconvivível, e isso, mais do que aos que me cercam,
oprime e atazana a mim mesmo. Isso porque tenho uma mente inexplicavelmente
esponjosa para absorver refrões musicais. Assim, passo esses dias cantarolando refrões
carnavalescos pela casa, no carro, nas calçadas, no clube e nos restaurantes. Não
há quem me aguente. Pior: nada disso condiz com a manutenção da imagem de um
respeitado cronista mundano. Melhor nem dizer nada a respeito.
Ei, você aí! Me dá um dinheiro aí! Me dá um dinheiro aí! Além do
mais, todo ano prometo a mim e a terceiros que participarei de corpo presente
do Bloco da Velha, esse já tradicional, bem-humorado, divertido e sadio evento
cultural que toma as ruas de Caxias do Sul no Carnaval, porém, na hora “h”,
acabo cedendo à inércia e fico em casa. Uma ausência que, segundo alguns amigos
sensatos, vem garantindo o crescente sucesso da efeméride a cada ano. Há quem
diga que me vê por lá fantasiado de outras pessoas, mas é boato.
Explode coração na maior felicidade, é lindo meu Salgueiro, contagiando
e sacudindo esta cidade! Aí, no fim, resigno-me a comprar meia dúzia de
latinhas de cerveja e me plantar no sofá da sala em frente à tevê para assistir
aos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Invariavelmente, durmo com
a tevê ligada na metade do desfile da segunda escola e na metade da segunda
latinha. Na quarta-feira de cinzas me recomponho, como todos os demais
brasileiros, e, passado mais um Carnaval, estou pronto para retomar a luta pela
vida na realidade nossa de cada dia. O Carnaval é democrático e tolerante (até
mesmo comigo) e cada um festeja como quer, como sabe ou como pode. Uma
tolerância e uma democracia que deveriam ser estendidas para outras esferas de
nosso convívio social. No Brasil, país imaturo por natureza, até o Carnaval
pode servir de exemplo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 8 de fevereiro de 2016)
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